Topo

Com pista VIP e drinques a R$ 38, bloco atrai público que foge da muvuca

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/02/2019 08h35

No Carnaval do ano passado, Alessandra Farah e Giovanna Cremonini, ambas de 25 anos, passaram por maus bocados no seu bloco preferido, o Casa Comigo. Foram 40 minutos só para sair do metrô Faria Lima. "Estava um inferno, muito lotado. Teve briga, teve gente se socando na nossa frente", relatam.

Este ano, as amigas optaram por festas fechadas e blocos menores. Para ver o Casa Comigo, pagaram R$ 30 reais no ingresso antecipado da festa Deu Zebra, que reuniu também atrações como a banda Falamansa e o bloco Vou de Táxi neste sábado (2).

Transferida de última hora para o clube Espéria, na zona norte de SP, a festa, que antes seria no Campo de Marte, reuniu 3.500 pessoas. Giovanna e Alessandra só não aprovaram o preço da bebida: R$ 12 cada latinha de cerveja (a de 269 ml). Mas a infraestrutura e a sensação de paz valem o desembolso.

Com 60 seguranças, cinco bombeiros e sete policiais à paisana, o ambiente fez com que Alessandra se sentisse à vontade até para estrear o top de crochê com búzios feito pela avó. "Eu teria medo de ir vestida assim num bloco de rua. Na rua, o assédio é insuportável", justifica.

Paz na folia

Após abrir o show às 19h com "Xote dos Milagres", Tato Cruz, do Falamansa, pediu que todos mentalizassem a paz durante cinco segundos. "Estão relaxados?", perguntou.

O preço que se paga para conseguir relaxar no Carnaval é alto: só para respirar na área VIP, foliões gastaram até R$ 200. Um combo de whisky com energético não saía por menos de R$ 38. Item mais caro do cardápio, o combo "Grey Goose" custava R$ 420. Ainda assim, o prejuízo é menor do que o risco de ter um iPhone roubado no meio do empurra-empurra dos bloquinhos.

"Na rua tem muita muvuca, muita gente aproveitando para roubar. Tem que ficar alerta o tempo todo", observa Isabela Latorieri, 26, que pagou R$ 30 com nome na lista. No ano passado, a gestora ambiental teve uma má experiência no desfile do Vou de Táxi, na Av. 23 de maio. "Foi horrível, não tinha onde andar", lembra. O sufoco dos foliões foi tão grande que, neste ano, a prefeitura desistiu de usar o corredor norte-sul como espaço para desfiles.

Entre as mulheres, o assédio aparece como principal justificativa para se dar preferência aos blocos pagos. Outro trunfo são os banheiros. "Na rua você se limita, as pessoas encostam em você o tempo todo, tem assédio, não dá para ir ao banheiro", elenca Luiza Neves, 24. "Na rua tem todo mundo, quem tá aproveitando e quem tá roubando".

Lugar de 'boy'

Há quem se diga indiferente aos estilos de Carnaval. Seja bloco pago, gratuito, com banda ou DJ, Caio Midega, 22, e Renan Oliveira, 23, estarão curtindo. Os estudantes da FEI desembolsaram R$ 55 em cada ingresso antecipado mesmo sem saber se ia tocar forró, funk ou marchinha de Carnaval. "Descobri quais eram as atrações só hoje. Mas gosto de tudo. Gosto de aglomeração, som alto e álcool. É isso o que importa", diz Caio, vestindo apenas uma minissaia verde de cetim.

O engenheiro químico Yuri Caloni, 26, também não parecia interessando nas atrações musicais. Gastou R$ 100 no ingresso que dava direito à área VIP, "só para bagunçar". "Estava sobrando", disse, endossado pelo amigo Daniel Pereira, 24. Para a dupla, tanto faz se é bloco de rua ou camarote de clube. "O Carnaval de São Paulo está muito bom. Tão bom quanto qualquer balada", resume Daniel.

Para Rodrigo Moretti, 20, o Carnaval fechado torna o ambiente não apenas mais seguro, mas também mais "seleto". "O fato de ter que pagar para entrar acaba selecionando melhor o público", analisa.

No que depender de Paola Foglia, 19, no entanto, o "público seleto" pode soar como um tiro no pé. "Aqui é muito restrito, lugar de 'boy'. Os moleques se acham muito melhores do que realmente são, só porque pagaram caro para entrar. Garotos desse tipo me dão ânsia", alfineta. Apesar dos R$ 30 que pagou no ingresso, ela diz preferir a muvuca e a "diversidade" dos blocos gratuitos.

Blocos de rua