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Bloco Dalí Saiu Mais Cedo leva surrealismo para o Carnaval carioca

Michel Alecrim

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

16/02/2019 22h38

O movimento surrealista, que surgiu na França no início do século 20, buscava inspiração no absurdo, extrapolando totalmente o limite do real. Cem anos depois as ideias desses vanguardistas encontraram seguidores entre os foliões do Dalí Saiu Mais Cedo, que fez performances, apresentações e desfilou hoje no centro do Rio. As fantasias mais curiosas e inesperadas apareceram no evento do grupo que homenageia do pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989).

Isso porque a trupe evita se definir como um bloco. Logo no início, por volta das 18h30, houve a representação de um casamento coletivo. Este ano, o Dalí, que está no seu segundo carnaval, trouxe como tema o amor e por isso o tema da performance. A banda tocou a "Marcha Nupcial", como se fosse uma marchinha de carnaval, para a união de dois peixes como casal principal. Parece maluco, mas é apenas surreal. A cerimônia terminou ao som de "Peer Gynt", composição clássica do norueguês Edvard Grieg.

"Não somos um bloco nem uma fanfarra, mas estamos entre uma coisa e outra", afirma a produtora do Dalí, Luana Ribas, 38 anos, que pela segunda vez reuniu milhares de pessoas atraídas pelo diferencial da proposta.

A jornalista Flávia Souza criou a fantasia de "porcoleta", metade porco e metade borboleta - Marcelo de Jesus/UOL - Marcelo de Jesus/UOL
A jornalista Flávia Souza criou a fantasia de "porcoleta", metade porco e metade borboleta
Imagem: Marcelo de Jesus/UOL
Seguindo à risca a filosofia desse quase bloco, a jornalista Flávia Souza, 36 anos, criou a fantasia de "porcoleta", metade porco e metade borboleta. "O surrealismo tem também esse lado lúdico. E nos dias de hoje é preciso abstrair um pouco", explicou Flávia.

A fotógrafa Pamela Coelho, 32 anos, pôs um camarão na cabeça e um vestido representando o mar. "Pensei num camarão assassinado, uma tragédia no fundo do mar", declarou. Sua amiga, Bárbara Queiroz, 34 anos, estava combinando, com uma lagosta: "Vi que o Dalí tinha um projeto que era um telefone com uma lagosta e fui em frente".

A maçã verde que tapa o rosto de um homem em uma das obras do pintor belga René Magritte também virou tema de fantasia. Já a produtora que se identificou como Jaile foi de Vaca Profana, em referência a música de Caetano Veloso, que acabou entrando também no repertório.

As músicas tocadas pela banda, que saiu em cortejo pela Praça Quinze, não poderiam ser menos inusitadas. Eles tocaram Beatles, Doors, Queen e artistas nacionais como Ney Matogrosso e Raul Seixas, numa mistura bem surreal. Até fizeram um set com marchinhas tradicionais de carnaval para ninguém esquecer totalmente da festividade.

Mas o que mais levantou os surrealistas foi a execução de "Bella Ciao", hino antifascista que toca na série "La Casa de Papel", da Netflix. "Escolhemos músicas estejam de acordo com a nossa narrativa e que comunicam o que a gente faz", disse o diretor responsável pela banda, o sociólogo André Videira, 48 anos.

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