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Mulheres estão com menos medo neste Carnaval, avaliam foliãs em festa de SP

Bloco Jegue Elétrico animou os foliões no domingo (17) em Pinheiros - Nelson Antoine/UOL
Bloco Jegue Elétrico animou os foliões no domingo (17) em Pinheiros Imagem: Nelson Antoine/UOL

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

18/02/2019 09h49

Vestindo shorts e maiô decotado, Daniela Costa curtiu a festa de pré-Carnaval da Nossacasa, neste domingo (17), sem medo. Na opinião da empresária, o clima de assédio e machismo que antes imperava nesta época do ano está dando espaço a novos comportamentos. E a mudança é para melhor.

"Este ano sinto que está diferente. As mulheres estão mais livres, com menos medo. Estou vendo muita guria empoderada", diz. "É como se finalmente as mulheres dissessem: 'esse é o nosso espaço e vocês vão ter que respeitar.'"

Na mesma linha de raciocínio, o vocalista Emerson Boy, do bloco Jegue Elétrico, abriu o show da noite com um recado aos foliões: "Respeita as mulheres, rapaz", disse no palco. Foi aplaudido pelas cerca de 350 pessoas que lotaram a casa para ouvir os sucessos do bloco, que chega ao seu 19º Carnaval.

No ambiente da casa noturna da Vila Madalena, os banheiros são unissex, há placas espalhadas por todo o local com mensagens anti-assédio e campanhas contra o machismo, como "não é não".

"Aqui é um ambiente onde o foco não é necessariamente de pegação. Apesar de que o Carnaval de São Paulo está ficando muito mainstream e atraindo um público 'topzera'", diz Michel Jacometi, 29.

Para André Haddad, 23, que estava na festa acompanhado da namorada e amigos, o clima de azaração nunca deixará de existir no Carnaval."Há uns quatro, cinco anos atrás, os homens se aproveitavam das situações, das meninas bêbadas e com roupas curtas", conta o estudante, que assume que até ele mesmo já teve esse tipo de comportamento. "Mas hoje em dia isso está acabando."

Campanhas contra o assédio começaram a tomar forma no Carnaval de 2016 e hoje já são unanimidade, pelo menos no discurso. Para o vendedor Filipe Alecrim, 22, há hipocrisia nas atitudes de algumas pessoas. Ele conta ter sofrido assédio no ponto de ônibus por causa da roupa que estava usando: uma saia de estampa tigresa com meias combinando. "As pessoas passam o ano inteiro criticando certas atitudes e no Carnaval parece que esquecem", alfineta.

Para Luísa Assaf, 18, o pré-Carnaval de São Paulo é melhor neste quesito do que os quatro dias oficiais da folia. "Carnaval fica muito cheio, sempre acontece alguma coisa com alguma amiga nossa", relata, vestindo sutiã preto e orelhas de coelhinha.

Já para a amiga Giovanna Couto, 18, "os homens atrapalham o Carnaval". "Eles definitivamente ficam mais folgados" comenta, mas concordando que os tempos são outros. "Acredito que as coisas estão melhorando em relação ao que era antigamente".

Este será o primeiro Carnaval que acontece sob a lei da importunação sexual, em vigência desde setembro de 2018. Assédios comuns nos bloquinhos, como mão-boba e beijo roubado, agora podem acabar em prisão.

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