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Passista leva a cultura do Brasil à Europa: "Brasileira não é só bunda" 

Flávia Costa em Genebra - Arquivo Pessoal
Flávia Costa em Genebra Imagem: Arquivo Pessoal

Soraia Gama

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/02/2019 16h30

Flávia Costa nasceu na Brasilândia, bairro da periferia de São Paulo, estudou em colégios públicos, foi bolsista na Universidade Mackenzie e tem dois mestrados fora do Brasil, um no Uruguai e outro na Suíça. Tudo isso, por si só, seria motivo de orgulho para a família e para a própria Flávia, mas a história não para por aí.

A moça, apaixonada pelo Carnaval, faz questão de ajudar a disseminar na Europa e nos Estados Unidos a cultura brasileira. A paulistana não chegou a se formar bailarina do Teatro Municipal porque precisou largar a dança para trabalhar, mas os quatro anos de balé deram a ela conhecimentos de música e coordenação motora aplicados até hoje nas aulas em que ensina samba no pé. 

Morando na Suíça desde 2010, Flávia ficou apenas dois anos longe da Rosas de Ouro, onde desfila desde 2004. Em Genebra, atua fortemente no G.R.E.S. Unidos de Genève, escola de samba fundada por um europeu fascinado pelos sons do Brasil.

"Quando me mudei para Genebra, ainda não tinha a língua fluente para fazer o mestrado, então meu marido sugeriu que eu me dedicasse ao francês e procurasse algo para fazer. Acabei me envolvendo nesse projeto", conta Flávia, que se tornou olheira no Carnaval de São Paulo, indicando brasileiros talentosos para se apresentarem no exterior.

Flávia conheceu Mateo, o marido belga, quando ele trabalhava no Brasil. Ele, que também não resistiu aos encantos da batida brasileira, toca na bateria da Unidos de Genève e também no bloco Passaram a Mão na Pompeia, onde Flávia brilha como rainha de bateria. 

Referência de brasileira que conhece bem o assunto, a passista da Rosas [e jurista em Genebra] garante que não vale só saber sambar. "A gente olha todo o conjunto. Postura, comportamento, talento. Não vou indicar alguém em que não confio", avisa ela, que ajudou a levar nomes do samba para a Europa, como mestre Caju [Mancha Verde] e Carlinhos Salgueiro.

"Temos muita gente boa na Europa representando o Brasil, como Rosângela Silvestre [professora de dança afro-brasileira], o mestre Leto [maracatu] e Carlos Frevo [frevo]. E nos Estados Unidos temos a Aninha Malandro, filha do Carlinhos Pandeiro de Ouro. Ela é a idealizadora do International Samba Congress, que tem um braço no Rio de Janeiro", enumera Flávia.

 Além disso, Flávia tem um programa na rádio Alma Lusa, em Gland [uma pequena cidade próxima a Genebra]. "A maior comunidade na Suíça é a portuguesa e tem, é claro, muito brasileiro", conta ela. 

Flávia Costa ajuda a divulgar a cultura brasileira no exterior - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A passista ajuda a divulgar a cultura brasileira no exterior
Imagem: Arquivo Pessoal
Passistas sim, bunda de fora não!

"As escolas de samba na Europa podem ser comparadas a Cordões. Só em Portugal é que são maiores, com casal de mestre-sala e porta-bandeira, bateria, alas e [pequenos] carros alegóricos", explica Flávia, que tem muito cuidado ao fechar um show com clientes de Genebra.

"Temos de perguntar se querem biquíni no show. A maioria diz não, então usamos vestidos com costeiros."

O figurino mais comportado é justificado pelo fato de que a cidade é formada por maioria protestante. "Eles são mais conservadores, mas isso acaba sendo favorável, porque valoriza a dança. Mulher brasileira não é só bunda", defende Flávia, que se apresenta e ensina samba em muitos festivais pelo mundo.

Nesses eventos acontecem aulas de percussão, dança e pequenos shows. "As pessoas adoram a cultura brasileira. Certa vez fiquei passada ao ver um grupo de marroquinos cantando forró! Não sabiam ao certo o que estavam dizendo, mas tinham decorado a letra da música. Todo o mundo se encanta pelo Brasil e pelos brasileiros."
 

São Paulo