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Ala Plus Charme da Império de Casa Verde já tem fila de espera para 2020

Keila Regina da Silva Correia, 39 anos, foi uma das primeiras a fazer parte da ala plus size da Império - Divulgação
Keila Regina da Silva Correia, 39 anos, foi uma das primeiras a fazer parte da ala plus size da Império Imagem: Divulgação

Soraia Gama

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/02/2019 04h00

Para ser passista é preciso saber sambar, nem que seja um pouquinho. O restante fica por conta da preparação, que começa com aulas de dança sensual. Foi assim que aconteceu com a ala Plus Charme, da Império de Casa Verde (veja a ordem dos desfiles do Grupo Especial de São Paulo).

Lá, as meninas são gordas e não pensam em emagrecer. O que aprenderam, além de sambar, foi aumentar a autoestima. O projeto foi tão bem que tem até fila de espera para o Carnaval de 2020.

"É muito prazeroso reconhecer o próprio corpo e trabalhar a sensualidade. Isso aumenta muito a autoestima. Estamos mais soltas, todas donas de si", diz Keila Regina da Silva Correia, 39 anos, uma das primeiras a fazer parte da ala. Diagnosticada com depressão, síndrome do pânico e fibromialgia, Keila encontrou um caminho para se fortalecer e vencer seus problemas.

"Meu psiquiatra falou para eu ir atrás de algo que me desse prazer e eu fui!", conta ela, que participou de concursos de miss plus size antes de se apaixonar pelo Carnaval. O problema de Keila, que trabalha na rede municipal de São Paulo, também se intensificou por conta de um grave acidente de carro e de agressões que sofreu no trabalho.

"Estou bem melhor e voltei a lecionar", diz confiante. "Encontrei uma grande paixão. A Império é uma família. Eles telefonam, ficam preocupados, mandam mensagens no WhatsApp. Não deixam você desistir."

Sem problema de autoestima e com a vaidade falando mais alto, Keila não sai de casa sem se arrumar. "Hoje me aceito como sou, mas foi difícil. Tenho 1,70m e peso 95 quilos. Minha estrutura óssea é larga, nunca fui magrinha. Mas engordei muito nesse processo de depressão", conta ela, que também encarou o fim do casamento. "Acabou porque ele me disse que não sabia lidar com a minha depressão."

Janaína Diegues Ruiz, 35 anos, também passou a ser mais vaidosa depois de entrar para a ala Plus Charme. "Não ligava muito para isso, mas aprendi a cuidar mais da pele, das unhas. Vamos todas gatíssimas para o ensaio", diz ela, que está sempre ao lado do namorado. "Ele torce muito por mim. Se fosse outro, ficaria com ciúme."

Janaína também teve de se superar ao ser diagnosticada com hipoapneia [a pessoa perde oxigenação no corpo quando dorme]. "O médico disse que eu poderia dormir e não acordar mais. Agora estou bem, com saúde. Eu gosto de ser cheinha, as pessoas é que não gostam. Tem gente que recrimina só com o olhar. É bom ter essa ala no Carnaval para mostrar que gordinha também pode!"

Abaixo a gordofobia!

Ala Plus Charme, da Império de Casa Verde - Divulgação - Divulgação
Ala Plus Charme, da Império de Casa Verde
Imagem: Divulgação

Janaína conta que o clima nos ensaios é animado e muito diferente de um ambiente de academia. "A gente usa top, short... É libertador! Eu me sinto com os meus", diz ela, que defende a existência de alas plus size. Para ela, seria bom ter mulheres de diferentes manequins e estilos na ala de passistas das escolas de samba. "Se depender da sociedade, sempre vai ser segregado, infelizmente."

Para Andréa Freitas, que desfila há sete anos na Império, misturar mulheres de 90 quilos com as que pesam 50 poderia gerar constrangimento e não chamar a atenção tão sonhada por elas. "Somos 30 mulheres e vamos mostrar o nosso poder. Nós também somos mulherões!", defende uma das coordenadoras da ala Plus Charme. O projeto foi montado em abril de 2018, e Andréa conta que 50% das meninas se candidataram pelo anúncio. "Fizemos uma audição, porque precisava saber sambar."

Para Janaína, o importante é se aceitar como é, sempre prestando atenção na saúde. "O povo acha que só porque é gordo não se cuida. Não é isso!", afirma a auxiliar jurídico que, antes de entrar na Império, só sabia dançar "um pagodinho". "Ser passista é muito diferente! Precisa ter postura, elegância, fazer os movimentos certos dos braços", ensina.

São Paulo