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"Não podemos achar que assédio é normal" diz coordernadora de campanha

Grupo distribui adesivos e tatuagem contra o assédio no Bloco Casa Comigo, que sai da avenida Faria Lima, em Pinheiros - Marcelo Justo/UOL
Grupo distribui adesivos e tatuagem contra o assédio no Bloco Casa Comigo, que sai da avenida Faria Lima, em Pinheiros Imagem: Marcelo Justo/UOL

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/02/2019 18h21

"É debaixo da saia que eu vou/É debaixo da saia que eu vou/É debaixo que eu vou ficar/Só se ela deixar."

A alteração na letra da música "Bom-Bocado", do Art Popular, foi feita pelo bloco Casa Comigo durante o desfile de hoje. Alinhado à campanha Carnaval Sem Assédio, o bloco não só adaptou letras, como interrompeu o batuque várias vezes para dar "textão" nos homens assediadores. O público correspondia com gritos de "Ih, fora!" e "Não é não".

Um dos maiores blocos de São Paulo, o Casa Comigo fez até uma marchinha com a letra "Não é não".

Coordenadora da campanha Carnaval Sem Assédio, Paula Lago falou em entrevista ao UOL sobre o projeto, que está em seu quarto ano. A campanha conta com a parceria da Prefeitura de São Paulo, do Ministério Público, da Delegacia da Mulher, da Polícia Civil e do Coletivo Não É Não.

"Nosso objetivo é mostrar a importância da luta contra o assédio no Carnaval. Não podemos achar que é normal, que é OK", diz a coordenadora.

A voluntária Luciana Bomfim e a organizadora do grupo Carnaval Sem Assédio estão distribuindo adesivos e tatuagem contra o assédio no Bloco Casa Comigo - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
A voluntária Luciana Bomfim e a organizadora do grupo Carnaval Sem Assédio estão distribuindo adesivos e tatuagem contra o assédio no Bloco Casa Comigo
Imagem: Marcelo Justo/UOL

Além dos ônibus posicionados em locais estratégicos do Carnaval, a campanha conta com 100 voluntárias, incluindo psicólogas, assistentes sociais e advogadas, "para auxiliar quem quiser levar os casos mais graves adiante", diz Paula.

Uma das voluntárias da campanha, Luciana Bonfim é um dos "anjos do Carnaval", que atuam principalmente na dispersão dos blocos. "A dispersão é um momento delicado em que as pessoas já consumiram bebida alcoólica o dia inteiro. As mulheres estão mais vulneráveis, muitas acabam se perdendo do grupo de amigos, e é nessa hora que acontecem os principais casos de assédios", conta a voluntária.

A foliã Raffaela Spilimbergo, 19 anos, conta que foi assediada na dispersão do desfile do Casa Comigo em 2018. Um homem passou a mão em sua bunda e em sua região genital sem permissão. Ela acredita que neste ano o clima está de mais respeito ao consentimento.

"Parece que os homens estão respeitando mais", avalia Raffaela, chamando a atenção para a lei do assédio, que entrou em vigor no final de 2018. "Sinto que os homens estão com mais medo de chegar. Eles não estão chegando na maldade, estão com mais delicadeza e respeito", avalia.

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