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Armênios homenageados pela Rosas de Ouro se apaixonam pelo Carnaval 

Armênios serão homenageados na Rosas de Ouro - Bruno Ulivieri/Divulgação
Armênios serão homenageados na Rosas de Ouro Imagem: Bruno Ulivieri/Divulgação

Soraia Gama

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/02/2019 16h04

No último mês, o Clube Armênio, em Moema, poderia ter sido facilmente confundido com uma escola de samba: os ritmistas da bateria e o casal de mestre-sala e porta-bandeira mostraram o verdadeiro clima do Carnaval paulistano para os 500 armênios que vão desfilar na Rosas de Ouro.

A escola da zona norte da capital vai homenagear e mostrar um pouco da história do primeiro povo cristão do mundo. Entre orgulho da origem e um pouco de receio, a verdade é que os armênios da capital paulista estão adorando a oportunidade de viver essa experiência. 

Casada com filho de armênios, Gislaine Mordjikian adotou o sobrenome do marido e diz ser armênia de coração. Ao lado do marido, Aram Hamtarsum Mordjikian, e do filho adolescente do casal, Aram, 15 anos, formam uma das muitas famílias animadas nos ensaios.

"No começo, ficamos meio assim... Mas depois do primeiro ensaio tudo ficou diferente. É uma escola com muita garra, que nos motiva demais e nos transformou. Os armênios são unidos, mas a sabedoria da Rosas nos fortaleceu", elogia Gislaine, admitindo que foi picada pelo "bichinho do Carnaval".

"É muita emoção! A bateria é o máximo! E antes do ensaio eles agradecem, rezam. É de arrepiar!", diz ela, que nunca imaginou que o Carnaval no sambódromo pudesse ser algo tão organizado e respeitoso. "Tinha medo, mas meus olhos mudaram a minha opinião."

Aos 63 anos, dona Janete Nigohosian também se sentiu "meio assim" no começo, mas confessa que vibrou ao saber que desfilaria em um carro alegórico. "Pulei de alegria. Acho que me colocaram lá porque eu fiquei muito vermelha durante o ensaio. Essa foi minha primeira vez no sambódromo [para o ensaio técnico] e achei maravilhoso. Amei tudo aquilo", conta a brasileira, que tem avós maternos e paternos armênios. "É uma linda atitude [a homenagem]."
 
Dikran Kiulhtzian, que sempre gostou de Carnaval e já assistiu aos desfiles no Anhembi (SP) e na Sapucaí (RJ), esteve à vontade desde o início do projeto. "Somos brasileiros, e o samba faz parte da nossa vida. A minha surpresa foi o profissionalismo que existe dentro da escola e o respeito por todas as pessoas. Atingimos um patamar que não tem mais volta. O Rio de Janeiro que se cuide", diz ele, que vai levar para a avenida a esposa, os três filhos e as namoradas deles.

"Só podemos agradecer por terem lembrado de uma história milenar e valorizado nossa cultura e nossa fé", diz o vice-presidente da diretoria executiva da Igreja Armênia Apostólica do Brasil.

Dikran Kiulhtzian, que sempre gostou de Carnaval, vai desfilar com a família pela Rosas de Ouro - Bruno Ulivieri/Divulgação  - Bruno Ulivieri/Divulgação
Dikran Kiulhtzian, que sempre gostou de Carnaval, vai desfilar com a família pela Rosas de Ouro
Imagem: Bruno Ulivieri/Divulgação

História milenar

Empresário e filho de armênios, Dikran orgulha-se de ter o nome de um importante rei armênio. "Ele era chamado também de Tigranes, o Grande", diz ele, dando sequência à história da família: "Meu avô materno nasceu no antigo Reino da Armênia [hoje Turquia] e o paterno fugiu na época do genocídio". 

Com tanta história para contar, é natural que Dikran fique fascinado pelo enredo em homenagem aos antepassados. "O trabalho está sendo muito bem-feito. O povo armênio já ganhou na transmissão da nossa história. O próprio samba diz: 'Tem de respeitar a nossa identidade'. Esse respeito já temos, somos vencedores. O que precisamos é premiar a Rosas com o título", acredita o ex-professor universitário.

"Tudo foi feito de forma lúdica e informativa. Sem muita lamentação, retratando a realidade histórica com muita alegria. O povo é alegre, produtivo, pacífico e amante da cultura. Os armênios foram exemplarmente bem-aceitos pelo governo brasileiro. E os descendentes se sentem acolhidos."

São Paulo