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Amigos da Onça entra no circuito oficial do Carnaval do RJ com desfile-show

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

02/03/2019 08h03Atualizada em 02/03/2019 12h33

Até 2018, quem quisesse assistir ao desfile oficial do bloco Amigos da Onça tinha que ser, no mínimo, amigo de um amigo que conhecia um instrumentista. Data, local e horário eram confidenciais por quanto tempo fosse possível, mas isso mudou. Um dos blocos secretos mais famosos do Rio saiu da margem e no Carnaval 2019 fez seu primeiro desfile no calendário oficial do Rio de Janeiro.

Às 6h deste sábado de Carnaval, o bloco iniciou sua concentração na Praia do Flamengo, zona sul carioca, com o Pão de Açúcar como moldura e a chuva como penetra. Mas o mau tempo não afastou os foliões que já se aglomeravam aguardando o início do cortejo, que foi às 7h. Com uma banda animada, ensaiada e muito bem fantasiada, o repertório incluiu clássicos do axé e da MPB. No final, muito funk carioca, claro.

Segundo a organização, a decisão de abandonar a pecha de bloco secreto foi pensando na segurança dos foliões. Em 2018, estima-se que o Amigos da Onça tenha arrastado 50 mil pessoas em cortejo, sem qualquer infraestrutura oficial com policiamento, banheiros ou bombeiros. Neste ano, com a previsão inicial de 15 mil foliões presentes, o bloco, que agora é oficial, teve a presença de bombeiros e policiais militares durante todo o cortejo.

Fã do bloco há pelo menos três anos, a foliona Mariana Alves, de 24 anos, achou melhor o bloco constar na lista oficial da Prefeitura do Rio. Nos anos anteriores, ela conta, era difícil saber onde estava o cortejo e o horário de início: "Agora eu cheguei aqui cedo para curtir tudo." Por outro lado, sua amiga Mariana Santos, 24, afirmou à reportagem que ser secreto ou oficial não muda a qualidade do bloco: "Nunca deixo de vir, porque é o melhor que tem", conta. Junto com a amiga Caroline Castro, elas completam um trio que segue a tendência do bloco: sempre com maquiagem e roupas que fazem alusão a estampa de onças.

Todo o cortejo do Amigos da Onça foi marcado por surpresas. Uma ala de dançarinas sempre coreografadas, as já famosas "oncetes", junto a uma turma de pernas-de-pau, comandou o cortejo interagindo com o público e inovando nas danças e passos marcados. Era um corpo de baile digno de grandes espetáculos musicais em palcos, mas que estava desfilando na beira do mar.

O ponto alto do cortejo foi a homenagem a Marielle Franco. A vereadora carioca assassinada há quase um ano em um crime ainda sem respostas era fã de Carnaval, e no ano passado distribuiu material de campanha contra o assédio às mulheres. Neste ano, o Amigos da Onça levou ao cortejo dezenas de placas com o nome de Marielle, semelhante àquela rasgada ao meio por opositores em um evento político. Enquanto a cantora Doralyce lembrava dos feitos e da importância de Marielle para a luta feminista e antirracista, a maioria dos integrantes do bloco se emocionou e chorou, bem como parte do público presente.

Após a homenagem, o cortejo seguiu com palavras de ordem também contra o machismo, o padrão de beleza e também a favor da paz. As poças de água formadas no trajeto após as fortes chuvas não atrapalhou o cortejo, e foi até cenário para brincadeira dos dançarinos e músicos.

O Amigos da Onça não registrou qualquer tipo de confusão ou briga, e estima que o público presente tenha excedido os 15 mil previstos. Agora mais conhecido do grande público, talvez o número tenha que subir em 2020.

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