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Então Brilha supera boicote e celebra 10 anos de purpurina em BH

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

02/03/2019 10h42Atualizada em 02/03/2019 13h21

Com muita purpurina libertária e discurso de resistência, o Então Brilha, um dos maiores e mais tradicionais blocos do Carnaval de Belo Horizonte, coloriu de rosa e amarelo a avenida do Contorno na região da Lagoinha, centro da capital mineira, na manhã deste sábado (2). O Brilha, como é carinhosamente chamado por seus integrantes, comemorou 10 anos neste Carnaval, como lembrou um de seus fundadores, o músico Di Souza. Ele ainda revelou ao público que o bloco sofreu uma tentativa de boicote para que não saísse.

"O Brilha está completando dez anos de existência com muito amor e muita resistência. Somos um bloco de luta, sim! Podem continuar a tentar derrubar o Então Brilha. Hoje de madrugada cortaram o freio do nosso trio elétrico para que a gente não pudesse chegar aqui. Mas estamos aqui e nós vamos sair, sim!", bradou Di Souza, no alto do trio, por volta das 7h, para uma multidão purpurinada em êxtase matutino, que o aplaudiu fortemente.

"A gente é a luz do sol", definiu o músico sobre o bloco que sempre sai no raiar do sábado de Carnaval. Di Souza pediu barulho para pessoas de comunidades periféricas presentes no bloco. "Alô bateria, eu amo vocês!", completou o regente no começo do desfile no qual o axé baiano dos anos 1990 prevalesceu no repertório.

A saída do Brilha foi marcada por uma forte cortina de fumaça rosa e amarela e pelos milhares de integrantes cantando seu hino, que diz: "Gente é pra brilhar, então brilha!", inspirado nos versos de "Gente", música de Caetano Veloso.

"Carnaval se faz é no chão, é na rua", disse Di Souza. "É no Carnaval que vivemos o sonho da liberdade", complementou na sequência Michelle Andreazzi, vocalista do Então Brilha. "Precisamos de um mundo mais amoroso, que respeite as diferenças e onde permaneça a igualdade de direitos", declarou a cantora, para ainda afirmar que "é o brilho do suor da classe trabalhadora que faz esta nação".

Durante o cortejo pela av. do Contorno rumo à praça da Estação, o Então Brilha passou por uma grande faixa que dizia "Aposentar aos 65 anos é falta de humanidade", que foi lida pelos integrantes do bloco, que falaram que os foliões precisam resistir à reforma da previdência do governo Bolsonaro. "Ela vai afetar sobretudo o povo pobre, da favela, da comunidade", discursaram.

Falando em comunidade, o Bloco Seu Vizinho, do Aglomerado da Serra, onde desfila na segunda (4) às 13h, foi convidado do Então Brilha, que entoou a música autoral "Serra Resiste" e contou com integrantes da comunidade em todas as áreas do bloco.

Depois, MC Kadu comandou a bateria em ritmo de funk para cantar clássicos dos bailes funks das comunidades belo-horizontinas. Ele ainda lembrou a importância de combater o assédio às mulheres e disse que a comunidade não ia "passar pano" pra homens machistas ou violentos no Carnaval.

No meio do cortejo, o Brilha também pediu "um minuto de silêncio pelos mortos no crime socioambiental da Vale em Brumadinho". O desfile terminou com chuva, que lavou a alma dos foliões mineiros.

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