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Terreirada Cearense: Música do sertão do Cariri invade parque do Rio

Michel Alecrim

Colaboração para o UOL, no Rio

02/03/2019 18h40

O bloco Terreirada Cearense levou a cultura do sertão do Cariri para o parque Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O bloco fez apresentação musical e encenações com dezenas de pernaltas, numa festança nos moldes do reisado nordestino. Entre o público, muitas fantasias faziam sátiras políticas.

O mau tempo quase atrapalhou a apresentação e uma tenda extra teve de ser armada em frente ao palco para proteger os foliões da chuva. Os cuidados atrasaram até o início do evento, que estava previsto para as 14h, em cerca de uma hora e meia. No entanto, a chuva parou no início da tarde e o público pôde também dançar, pular e rolar na grama do parque que pertenceu à Família Real.

Tairyne Moura, 30, cabeleireira - Bruna Prado/UOL - Bruna Prado/UOL
Tairyne Moura, 30, cabeleireira
Imagem: Bruna Prado/UOL
O peso histórico do lugar deu mais força às fantasias com tons políticos. Tudo com muito deboche, é claro, pois o melhor do Carnaval é a diversão. Tainiry Moura, cabeleireira niteroiense de 30 anos, se vestiu de diaba com chifres vermelhos. "É uma forma de lembrar as desgraças que estamos passando. Aqui do lado o Museu Nacional pegou fogo. Não dá pra deixar isso de lado", afirmou Tainiry, se referindo ao incêndio que praticamente destruiu o acervo e o Palácio do museu em setembro do ano passado a poucos metros do local do bloco.

Luana Luna, designer de 30 anos, foi vestida de laranja, com várias delas penduradas. A fantasia foi um protesto debochado em relação ao escândalo dos candidatos laranjas do PSL, partido de presidente Jair Bolsonaro. "Encontrei bolas de luminárias japonesas e achei perfeito", conta Luana, que curte música nordestina por influência da família. 

O assistente de administração Tadeu Botelho (34) aproveitou uma fantasia de urso que já tinha e tascou logo o símbolo da Ursal. A tão temida União das Repúblicas Socialistas da América Latina virou motivo de chacota após o ex-candidato à Presidência Cabo Daciolo anunciar o suposto complô, que virou agora tema de folia. "Carnaval é bom para fazer um pouco de deboche", afirmou Botelho.

Este ano, o Terreirada Cearense também trouxe um enredo politizado ao lembrar o massacre do povoado Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, no Crato (CE), ocorrido em 1937. A Força Aérea foi usada no episódio para destruir o lugar, que segundo o governo era dominado por fanáticos.

Durante a apresentação, o público teve de abrir espaço para os cem músicos e cerca de 80 dos chamados brincantes, a maioria deles pernaltas. Além de músicas próprias, clássicos do repertório nordestino também entraram na roda. Apesar do culto às tradições, o Terreirada tem pegada moderna com guitarra e baixo, que soaram alto e empolgaram com "Tu Vens" (Alceu Valença), "Eu Só Quero Um Xodó" (Luiz Gonzaga), "Sobradinho" (Sá & Guarabyra) e "Pavão Mysteriozo" (Ednardo).

"As micaretas pasteurizaram muito o carnaval, mas agora estamos vendo uma retomada da cultura popular", afirmou o cantor e compositor principal da Terreirada, Junu.

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