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Com menções a Marielle Franco, Explode Coração desfila em São Paulo

Carlos Minuano

Colaboração para o UOL, em São Paulo

03/03/2019 15h00

"Quando o Explode passa, São Paulo vira Bahia", avisa Gisele Galvão, 31, diretora de criatividade e imagem do bloco Explode Coração, que desfila pela terceira vez no centro de São Paulo. Desde cedo, uma multidão já lotava a Praça da República, bem antes do cortejo começar de fato, sob forte calor, pouco antes das 13h.

O desfile do bloco celebra o cancioneiro de Maria Bethânia, o tropicalismo e a diversidade cultural brasileira, sempre com temas inspirados em álbuns da artista. Esse ano o disco da vez é "Alteza", de 1981.

Antes da música começar de fato, o bloco mandou seu recado. "O nosso reino é a rua! Nossa espada é o coração, e é com ele que vamos desfilar pelo centro de São Paulo no domingo de Carnaval. Nesse dia, o concreto ganha cor". 

O discurso do bloco também exaltou a diversidade, a liberdade de expressão e prestou homenagem "às pessoas que lutam por um mundo mais igualitário."

"Memória viva de Marielle Franco, memória viva do Mestre Moa do Katendê, memória viva de todas as pretas, brancas e coloridas que sabem que por dentro todo mundo é vermelho! Viva nossa abelha rainha, Maria Bethânia! Essa festa é por ti, minha senhora! Pela liberdade de poder existir, resistir e amar". As canções "Alteza", "Explode Coração" e "Esotérico", abriram o desfile.

O bloco avançou pela avenida Ipiranga embalado pelo rock de Raul Seixas, "Gita". Depois de muitos gritos de "toca Raul", o desfile deu uma parada ao lado da praça Dom José Gaspar. Antes de seguir em direção ao Teatro Municipal, foliões derretidos pelo calor dançaram ao ritmo do ijexá "É d'Oxum".

No caminho, o bloco puxou um coro de protesto político. Por alguns minutos a multidão gritou "Bolsonaro vai tomar no c. Lula livre". 

O caminho que o bloco faz este ano pelo centro de São Paulo é maior do que em 2018. Depois de passar pelo Teatro Municipal, o desfile segue pela avenida São João e retorna à Praça da República. 

Com percurso maior e por vias mais largas, o público também será bem maior, prevê a organização do bloco. "No ano passado foram mais de 30 mil, neste ano deve chegar a 100 mil", informou a assessoria do Explode Coração.

Apesar do tom político reverberar no desfile, a diretora do bloco afirmou ao UOL que não é essa a intenção. "Queremos deixar isso em aberto, mas claro há uma provocação", afirmou antes do desfile começar.

O que ela prefere destacar é o perfil ecológico do desfile. "Queremos chamar a atenção para as nossas matas, que estão em risco."

Essa preocupação está por toda a parte do bloco, aponta Gisele. "A decoração do carro, por exemplo, é toda de folhagens naturais, a ideia aqui é zero plástico." E para garantir, a guarnição será invocada no cortejo auxílio divino, acrescenta. "Vamos chamar Oxóssi, a rainha das matas, e Ogum, guerreiro e orixá do ano."

Protesto político também não é a intenção de Adriana Boulos, 40. Apesar do sobrenome (o mesmo de Guilherme Boulos, ex-candidato a presidente pelo PSOL), ela diz que quer mesmo é se divertir. "Amo a folia." Ela conta que, para garantir presença na festa, precisou incorporar uma viseira em sua fantasia, que não estava nos planos. "Peguei conjuntivite no pré-Carnaval".

Como a chuva tem castigado foliões, Lucas Corrêa, 22, decidiu se precaver. Ele e os amigos de Belo Horizonte, que vieram curtir pela primeira vez o Carnaval de rua paulistano, escolheram para este domingo a fantasia de bóia. 

"Na verdade a ideia foi minha e a inspiração foi a música "Piscininha Amor", corrige a amiga Tatiana Santos, 27, que veio de Vitória (ES). "Mas se chover como ontem pode ser útil", reconhece a foliona, que também não tem intenção de fazer protesto político. "Quero brincar, nem sabia que bloco era esse."

Também no mesmo grupo de amigos, a mineira Amanda Andrade, 23, explica que o critério de seleção dos blocos não foi exatamente temático. "Procuramos pelas redes sociais os mais cheios, viemos pela agitação do rolê, mas que fossem também seguros."

A diversidade entre os foliões é uma marca do bloco. "Foi a pegada politizada que me trouxe", conta a capixaba Pâmela Rhavene, 26.

Com uma fantasia inspirada no filme "Quinto Elemento", o americano Craig Bahia, 24, conta que veio de Nova York especialmente para conhecer a folia de rua paulistana. "Estou achando fantástico, é uma energia muito especial, que só uma multidão é capaz de gerar." 

Acompanhado por foliões incansáveis, o bloco seguiu entoando canções clássicas e sucessos na voz de Bethânia, como "Tigresa", "Carcará" e "A Filha da Chiquita".

Um dos únicos problemas que a reportagem do UOL presenciou durante o desfile foram os ambulantes, que ao longo do percurso tinham que ser retirados às pressas para que não fossem pisoteados pela multidão de foliões.

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