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Após grito contra Bolsonaro e confusão, Corte Devassa hipnotiza em BH

Miguel Arcanjo Prado

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

04/03/2019 21h22

A falta de uma corda de isolamento no pequeno carro de som atrasou o começo do desfile da Corte Devassa pela rua Sapucaí, no bairro Floresta, em Belo Horizonte, na tarde de sol desta segunda (4). 

A corda é uma exigência de segurança da Prefeitura de Belo Horizonte e da Belotur, diante do crescimento da folia na capital mineira. Segundo as autoridades, a corda evita possíveis atropelamentos. Mas o bloco disse que não havia sido avisado que ela era obrigatória, já que sai com um pequeno carro de som, não com trio elétrico. 

"Saímos oito anos sem corda no nosso carro de som. Este ano falaram pra gente que só era obrigatória corda para trio, que carro de som não precisava, por isso não trouxemos e agora não nos deixam sair", lamentou no microfone a regente de bateria, Lira Ribas.

Toda a produção do bloco saiu pela cidade à procura de uma corda, conseguida às pressas com blocos parceiros, para que a Corte pudesse sair.

A Corte Devassa é o bloco dos artistas no Carnaval de Belo Horizonte, sobretudo os do teatro e da música. Sua principal característica é ter os foliões fantasiados como na época da corte imperial, com pomposas perucas brancas copiadas da corte francesa. A Corte Devassa toca marchinhas tradicionais, como "Mamãe Eu Quero", que abriu o cortejo na voz de Rafael Ventura, seguida de "Allah-la Ô".

O bloco ficou revoltado por ter de usar corda. "A Corte Devassa não tem corda nem área VIP, aqui é todo mundo junto tentando se organizar", justificou a regente, que aproveitou o tempo parado para contar o tema deste ano.

"Ser feliz hoje é resistência, nos querem lama, seremos rio, nos querem gaiola, seremos corpo livre", afirmou Lira, sendo fortemente aplaudida. 

O coro dos integrantes aproveitou a deixa para gritar: "olê, olê, olê, olá, Lula, Lula" na saída do bloco, diante do Viaduto de Santa Tereza, cartão postal de BH. 

Presente no desfile, a Polícia Militar dessa vez não interveio diante do protesto político, que prosseguiu. 

"Bolsonaro você vai ter que nos engolir. Polícia Militar, você está a favor de nós", bradou o cantor Rafael Ventura. "As gay, as bi, as trans, as sapatão, tão tudo com as pretas pra fazer revolução. Ai ai ai, Bolsonaro é o c... Ei Bolsonaro, vai chamar a polícia, porque tomar no c... é uma delícia", contou, em êxtase, junto à multidão.

A regente Lira, depois, elogiou sua bateria. "A Corte Devassa tem a melhor bateria do Carnaval de BH", decretou, antes de complementar: "Os sopros são nosso xodó", confessou.

O cantor Marcelo Veronez, ícone do bloco e que gravou em seu disco o "Hino da Corte Devassa", chegou ao cortejo minutos antes de sua saída, às 17h. Ele contou ao UOL que seu atraso foi por conta do forte trânsito, já que antes ele estava no desfile do bloco Havayanas Usadas, no qual assina a direção artística.

Após defender a liberdade na folia e o respeito para gays, lésbicas, bissexuais, trans, negros, indígenas e mulheres, Lira afirmou: "Tem muito macho escroto que fica olhando de cara feia pra gente. Quer fazer diferente? Monta um bloco heteronormativo pra você!", gritou a filha do compositor Marku Ribas. "Meu pai fava tudo na cara da sociedade", lembrou sua educação, repleta de liberdade de expressão.

Após as falas, o bloco saiu, com cordas isolando o carro de som, e uma multidão cantando marchinhas de velhos Carnavais. Algumas com letra refeita para não cometer preconceito, como "Cabeleira do Zezé", cujo refrão na Corte Devassa diz: "Deixa o cabelo dele, deixa o cabelo dele.... Olha a cabeleira do Ed Marte, será que ele é, será que ele é, de Marte", em referência ao famoso performer não-binário mineiro. Outra marchinha que fez sucesso no bloco foi "O Baile do Pó Royal".

Artistas e público fizeram uma festa que hipnotizou os mineiros, afinal, como diz seu hino, "com a Corte Devassa eu vou até raiar o dia, Rainha Absoluta, no Carnaval a realeza é da orgia".

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