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Azarã, São Clemente diverte alfinetando o universo das escolas de samba

Júlio César Guimarães/UOL
Imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Leonardo Rodrigues*

Do UOL, em São Paulo

04/03/2019 21h31

Décima primeira colocada no Carnaval do Rio 2018, a São Clemente foi à avenida celebrando o melhor resultado de sua história: o sexto lugar que alcançou na disputa de 1990. Este ano, a escola escolheu reeditar aquele enredo, "E o Samba Sambou", criticando mais uma vez o aspecto comercial dos desfiles cariocas, que estariam perdendo sua identidade e se afastando do folião.

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Exemplos: a troca da sambista pela celebridade, os compositores de aluguel, os gringos que invadem os barracões e a rainha de bateria que paga para sambar ocupando o lugar de jovens da comunidade. As alfinetas vieram com muita descontração e criatividade.

Com 26 alas, cinco alegorias e 3.100 componentes, a São Clemente ainda viu as arquibancadas lotadas, após três dias de chuva intensa no Rio, e no fim, deixou uma pergunta no ar, que permanece atual: o Carnaval dos desfiles, com seu profissionalismo, megaestrutura e transmissões na TV, rádio e internet, perdeu a aura?

Baianas para alugar

A ala das baianas criticou as chamadas "baianas de aluguel", as que desfilam para qualquer escola por conveniência ou razão financeira. As fantasias traziam os avisos de "Promoção", "Imperdível" e "Aluga-se". As fantasias nas cores laranja, amarela e branca não eram nada luxuosas, como de outras escolas, mas deram o recado.

Jornalistas inconvenientes

Sobrou também para os jornalistas. A ala "Filhos da Pauta" simbolizou repórteres que invadem a avenida e acabam atrapalhando o desfile e o espetáculo. Também criticou aqueles que falham na apuração e publicam informações falsas sobre o Carnaval, as famosas "fake news".

Virada de mesa

Sugerida pelo próprio presidente da São Clemente, Renato Almeida Gomes, a comissão de frente trouxe um carro com um suporte, uma espécie de mesa, que girava em 180 graus e trazia integrantes vestidos de palhaço de volta à tona. Referência à virada de mesa do Carnaval de 2018, que impediu o rebaixamento de Grande Rio e Império Serrano.

"Nosso povão ficou fora da jogada"

Outra crítica contundente: uma alegoria reproduziu um camarote cheio de celebridades são servidas com champagne e outros mimos. O lugar tinha DJ, garçons e os convidados ouviam músicas que não tinham nada a ver com o samba, como costuma acontecer nesses espaços. O povo, verdadeiro protagonista do Carnaval, fica bem longe desse mundo.

"Coopersamba"

Com integrantes com foguetes nas costas e com a imagem de um cronômetro na fantasia, a ala alvejou a exigência de terminar o desfile dentro de um tempo pré determinado, que faz parte do jogo, claro, mas que vai contra o espírito livre e anárquico do samba, que hoje é melhor representado nos blocos de rua.

Prefeitura do Rio

No último carro, no qual tinham menções à prefeitura do Rio, a São Clemente trouxe os carnavalescos do Grupo de Acesso. As agremiações foram ainda mais impactadas pela política de cortes de recursos. A verba destinada ao acesso só foi liberada na sexta-feira anterior ao desfile.

*Com informações de Gabriel Sabóia, do UOL, no Rio

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