Pesquisador brasileiro documenta expedição na Antártida

Gabriel Monteiro
Após o incêndio que acometeu o principal módulo da Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), as pesquisas começam a ser retomadas. O incêndio não alterou pesquisas que independem da infraestrutura da estação, como trabalhos nos navios da Marinha do Brasil ou em acampamentos montados próximos a refúgios antárticos. No entanto, alguns projetos têm trabalhos muito específicos na região da estação, como é o caso do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA) que enviou seus pesquisadores para operar um robô submarino nas regiões próximas à estação, além de colaborar com a coleta de uma diversidade de amostras: solo, sedimento marinho, musgos, líquens, peixes, dentre outros. As fotografias são resultado do Projeto Pesquisa em Foco do biólogo Gabriel Monteiro, pesquisador vinculado ao INCT-APA
Gabriel Monteiro
A bordo da aeronave Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira a expedição antártica começa. Os pesquisadores saem do Rio de Janeiro, fazem uma parada em Pelotas (RS) para pegarem suas vestimentas especiais (armazenadas dentro destes sacos azuis) e seguem para Punta Arenas (Chile). Lá, aguardam condições atmosféricas favoráveis para o pouso na Ilha Rei George, onde se localiza a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). Após o pouso na Base Presidente Eduardo Frei Montalva, seguimos de navio até a EACF
Gabriel Monteiro
A viagem de Hércules é longa. Na fase de janeiro de 2014, pesquisadores brasileiros levaram 18 horas para chegar a seu destino final. O Hércules é uma aeronave robusta e extremamente segura. No entanto, conforto não é seu forte. Seus passageiros utilizam bancos de lona e sentam um de frente para o outro. Seja no formato tradicional ou em seu formato moderno, livros são excelentes companhias em viagens longas como esta
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Já na Antártida, pesquisadores aproveitam todas oportunidades de tempo bom para coletar seus materiais que servirão de base para muitos estudos de mestrados e doutorados em diversas universidades no Brasil. Os pesquisadores realizam coletas em praticamente todos os ambientes, a foto ilustra um grupo de pesquisadores que coletam sedimento marinho para estudos de poluição e contaminantes orgânicos na Baía do Almirantado, onde localiza-se a estação antártica brasileira
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Grupo de pesquisadores utiliza um equipamento oceanográfico chamado pegador Van Veen, uma espécie de mandíbula metálica usada para coletar sedimento marinho. Após coletado, o material é seco em estufa e enviado ao Brasil para análises químicas
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Existem ainda pesquisadores que coletam material em terra. Este grupo tem o objetivo de coletar uma determinada espécie de líquen antártico (associação de algas e fungos) e solo terrestre para análises de poluentes e contaminantes orgânicos
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Deslocamento em neve pode parecer uma tarefa simples, porém na Antártida pode ser fatal. Os pesquisadores brasileiros contam com o apoio de alpinistas do Clube Alpino Paulista, especialmente treinados para zelar pela segurança dos pesquisadores que acampam e que necessitam se deslocar em terra ou neve
Gabriel Monteiro
Alguns projetos científicos necessitam coletar materiais por muito tempo e longe das instalações da estação brasileiras. Este é um acampamento de pesquisadores brasileiros em Punta Henniquin, ainda na Baía do Almirantado. Este grupo tem por objetivo estudar aves marinhas como skuas e pinguins
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Esta ave chama-se Skua. Ela é uma espécie muito curiosa e, por isso, alguns indivíduos que vivem próximos à estação já estão acostumados com a presença humana. Pequenos objetos esquecidos no chão como luvas e gorros podem ser levados por estas aves que estão sempre a espreita. A Skua da foto choca seus ovos em um ninho feito em meio ao musgo que recobre as pedras da orla marinha. A alimentação da Skua é muito diversificada e inclui filhotes de pinguim e animais mortos
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Talvez um dos animais mais emblemáticos da Antártida seja o pinguim. Um comportamento muito interessante é o modo como se deslocam com velocidade no mar. Estes animais utilizam saltos sequenciais durante sua natação para economizarem energia. O ar, por ser menos denso que a água, oferece muito menos resistência ao movimento do pinguim
Gabriel Monteiro
Esta é uma pinguineira, local onde os pinguins vivem em grandes grupos. Duas características marcam os pesquisadores que visitam uma pinguineira: o cheiro e a cor avermelhada do solo. A cor é explicada pela presença do Krill (crustáceo) na alimentação destas aves. O cheiro forte é resultado do acúmulo dos excrementos de milhares de pinguins
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Durante as coletas, os pesquisadores podem ter o privilégio de avistar grupos de baleias jubarte se alimentando de Krill. A estrutura semelhante a pelos na boca do cetáceo é chamada de barbatana e serve para separar o krill da água do mar de cada abocanhada de estes grandes animais dão em busca de alimento. Esta espécie de baleia é comumente avistada no litoral da Bahia quando migram para se reproduzir
Gabriel Monteiro
Não há árvores na Antártida, apenas pequenas gramíneas e musgos conseguem resistir às adversidades climáticas deste ambiente. Durante o inverno ficam soterradas no gelo e a ausência de luz solar perdura por longos períodos
Gabriel Monteiro
É comum observar sobre os tapetes de musgo várias espécies de focas antárticas. Esta jovem foca de Weddell (Leptonychotes weddellii) descansava tranquilamente em Punta Plaza, um dos locais de amostragem do solo para estudos de poluentes e contaminantes orgânicos
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Ainda em Punta Plaza, local próximo à estação brasileira, pode-se notar manchas escuras na clara água do mar. Tratam-se de grandes bancos macroalgas. Estas algas, muito abundantes na região antártica, são produtores primários muito importantes na rede alimentar antártica, ou seja, servem de alimento para muitas espécies marinhas
Gabriel Monteiro
A neve acumulada ao longo dos milênios forma as geleiras (ou glaciares). Esta enorme massa de gelo se desloca lentamente rumo ao mar. Este movimento cria fendas e rachaduras chamadas de gretas e podem ser fatais caso algum pesquisador se acidente dentro de alguma delas. Bem próximo ao mar, as geleiras quebram e seus blocos de gelo passam a flutuar na superfície marinha. Estes blocos de gelo são chamados icebergs
Gabriel Monteiro
Alguns blocos de gelo apresentam coloração azulada. Este fenômeno pode ser explicado pelo mesmo motivo do mar ser azul. A água do mar absorve preferencialmente cores quentes, refratando apenas as frequências menos absorvidas (azul e violeta). Este mesmo processo ocorre no nos blocos de gelos, porém de forma intensificada e especialmente em blocos altamente compactados pelas geleiras
Gabriel Monteiro
Pela primeira vez, um pequeno robô submarino será operado por um grupo de pesquisadores brasileiros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais. A pesquisa irá mapear a fauna de algumas áreas usando vídeos subaquáticos feitos por câmeras do robô. Os resultados colaborarão para o monitoramento ambiental da área e serão correlacionados com a ação antrópica local e mudanças climáticas globais
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Após o incêndio ocorrido há dois anos na estação brasileira, pesquisadores contam com a infraestrutura dos Módulos Antárticos Emergenciais (MAE). A foto retrata alguns módulos deste complexo que são utilizados como laboratório. Amostras e dados coletados pelos pesquisadores são processados nestes laboratórios-contêiner e, posteriormente, alimentarão pesquisas científicas em várias universidades e centros de pesquisa brasileiros
Gabriel Monteiro
A foto tirada à meia noite e meia ilustra o nascimento da Lua atrás da geleira. É interessante notar que o céu ainda está claro. É comum que no alto verão não se tenha períodos de noite, assim como no alto inverno a luz solar é praticamente ausente. Nesta época do ano (final de janeiro) curtos períodos de noite já podem ser presenciados
Gabriel Monteiro
Jacques Cousteau, em sua primeira visita ao continente antártico em 1979, fez uma parada na Ilha do Rei George para visitar uma antiga base inglesa. Cousteau observou a grande presença de ossadas de baleia por toda Ilha e, acompanhado de um biólogo e seus homens, juntaram, de modo mais fiel possível, o esqueleto de uma Baleia Jubarte. A ossada continua intacta até hoje e se encontra bem próxima à base brasileira. Pesquisadores brasileiros trabalham unidos para que a Antártida seja conhecida e, acima de tudo, preservada