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Medidas de Trump preocupam Flórida, ameaçada por mudanças climáticas

30/03/2017 11h36

Miami, 30 Mar 2017 (AFP) - A decisão do presidente americano, Donald Trump, de fomentar as energias fósseis preocupa especialmente os moradores da Flórida, um estado que vive com a ameaça de inundações pelo aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas.

Na terça-feira, Trump começou a desmantelar as medidas de luta contra o aquecimento global implementadas pelo seu predecessor, Barack Obama, com a intenção de aumentar a produção de energias fósseis, usando como argumento a independência econômica e a geração de empregos.

Para cientistas e algumas autoridades locais, o presidente está revertendo, assim, a esperança dos cidadãos da Flórida de adiar por alguns anos sua vaticinada submersão.

Os especialistas preveem que em 2060 o nível do mar terá aumentado entre 35 e 66 centímetros, o que deixará submersa toda a costa do sul da Flórida, um estado pantanoso que não tem colinas nem elevações para onde os habitantes possam se trasladar.

O estado está condenado "não só pela sua topografia, mas também pela sua geologia: tem rochas muito porosas, é permeável e a água infiltra o substrato", explicou na quarta-feira à AFP Henry Briceño, geólogo da Universidade Internacional da Flórida.

"Assim, se você põe um dique, a água vai aparecer por baixo. A longo prazo não há nenhuma maneira de resolver isso", acrescentou.

A intenção de Obama de reduzir as emissões de dióxido de carbono "teria atrasado todo este processo para nos dar mais tempo de nos organizarmos, nos adaptarmos e tomar medidas, porque em algum momento será necessário ir embora da Flórida", acrescentou Briceño.

O cientista lamentou a falta de previsão ante esta tragédia iminente que, na melhor das hipóteses, representará bilhões de dólares em perdas imobiliárias.

"Se precisamos mover cinco milhões de pessoas dentro de 100 anos, dentro de 50 anos deveríamos estar vendo onde vamos ter metade dessas pessoas", comentou.

Há duas semanas, 32 cientistas da Flórida advertiram o presidente de que a sua mansão em Palm Beach, na costa atlântica, também ficará debaixo d'água.

"Muitas propriedades da Flórida, incluindo Mar-a-Lago, são vulneráveis ao aumento do nível do mar. Se não fizermos nada para combater as mudanças climáticas, teremos um aumento de 30 cm ou mais em 2060", escreveram.

- Ameaça em Miami Beach -Os moradores da Flórida vivem de perto a gravidade desta situação, embora continuem investindo bilhões de dólares em seus balneários. Ocasionalmente, a maré alta inunda as costas através dos dutos, e pode acontecer de a água limpa brotar dos bueiros.

Não é de se estranhar, então, que legisladores da Flórida aliados de Trump tenham criticado seu líder. A senadora Ileana Ros-Lehtinen disse que o decreto de terça-feira é "perigoso", e o representante Carlos Curbelo o qualificou de "equivocado".

Esta ameaça é vivida em primeira mão, particularmente, em Miami Beach, uma ilhota turística em frente à cidade de Miami que estará debaixo d'água no final do século.

Seus moradores sofrem há meses com as obras impulsadas pelo prefeito Philip Levine para elevar o nível das ruas e construir dezenas de instalações que bombeiam a água, em um projeto de 400 milhões de dólares que dará alguns anos a mais de vida à ilha.

Mas, após o esforço de parte das autoridades e dos contribuintes, a decisão de Trump é sentida como um golpe baixo.

"É uma pena porque o mundo todo, incluindo a China, está avançando na redução das emissões de carbono", disse Levine, que foi entrevistado por Leonardo DiCaprio no documentário "Before The Flood" (Antes da Inundação) devido à sua batalha contra o aumento do nível do mar.

"Infelizmente, nosso novo presidente vai na direção contrária", comentou o prefeito na terça-feira ao canal NBC.