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Fóssil de bebê do Alasca revela história dos primeiros humanos na América

Arqueólogos realizam escavações em Upward Sun River, onde foi encontrado fóssil de bebê que morreu há 11.500 anos - AFP
Arqueólogos realizam escavações em Upward Sun River, onde foi encontrado fóssil de bebê que morreu há 11.500 anos Imagem: AFP

Em Paris

04/01/2018 10h31

Ela morreu com seis semanas de vida há 11.500 anos, mas tem muito a dizer. A análise do DNA do fóssil de uma bebê encontrada no Alasca permitiu especificar como os primeiros humanos chegaram ao continente americano, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (3).

Os restos da menina foram descobertos em 2013 no parque arqueológico de Upward Sun River, no Alasca. A bebê foi batizada de "Xach'itee'aanenh t'eede gaay", ou "a pequena do amanhecer", pela comunidade local. Para os cientistas, é "USR1", em alusão ao local onde foi encontrada.

Ela tinha sido enterrada junto a uma recém-nascida também do sexo feminino, só ainda mais jovem, que foi igualmente estudada pela equipe formada por pesquisadores das universidades de Copenhague, Cambridge e Alasca.

Grande parte da comunidade científica concorda em considerar que os primeiros humanos que pisaram no continente americano pertenciam a grupos procedentes da Ásia ao fim do último período glacial (Pleistoceno Superior).

Nessa época de glaciação, o nível dos oceanos havia baixado e uma ponte terrestre correspondente ao atual Estreito de Bering permitia passar da Sibéria ao Alasca.

Mas ainda restam muitas perguntas sobre a data da chegada dessas populações e sobre a forma como ocuparam o continente americano.

Fóssil de bebê - Eric S. Carlson/The New York Times - Eric S. Carlson/The New York Times
Imagem: Eric S. Carlson/The New York Times

A equipe de pesquisadores, cujos trabalhos foram publicados na revista Nature, conseguiu sequenciar o genoma completo do bebê USR1.

No entanto, não puderam sequenciar o código genético da recém-nascida porque as amostras de DNA eram insuficientes. Mas as análises genéticas permitiram mostrar que as duas meninas tinham vínculos e provavelmente eram primas.

A "pequena do amanhecer" deu uma grande surpresa aos pesquisadores: seu patrimônio genético não corresponde às duas ramas conhecidas dos primeiros ameríndios (chamados do "norte" e do "sul").

Os cientistas descobriram que pertencia a um grupo até então desconhecido, que batizaram de "Beringianos Antigos".

"Não sabíamos que essa população existia", destaca Ben Potter, professor de Antropologia na Universidade do Alasca em Fairbanks.

Outras análises permitiram fornecer "a primeira prova genética direto de que os ancestrais dos ameríndios procedem todos de uma mesma população chegada em um único movimento migratório" durante a Era Glacial, segundo o estudo.

Esta onda migratória pode ter acontecido há mais de 20 mil anos, destaca a Universidade de Cambridge em um comunicado.