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Vida latente no deserto do Atacama sugere possibilidades em Marte

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Imagem: UOL

Em Miami

26/02/2018 20h22

Pode chover uma vez por década ou menos no deserto da Atacama, mas pequenas bactérias e micro-organismos sobrevivem lá, o que sugere a possibilidade de formas de vida similares em Marte, disseram pesquisadores nesta segunda-feira (26).

O Atacama, que abrange partes do Chile e do Peru, é o deserto não polar mais árido da Terra e pode conter o meio ambiente mais parecido com o do Planeta Vermelho, afirmou o estudo publicado na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences".

Deserto do Atacama Chile  - Freddy Alexander Burgueño/Creative Commons - Freddy Alexander Burgueño/Creative Commons
Atacama é o deserto não polar mais árido da Terra e o mais parecido com o Planeta Vermelho
Imagem: Freddy Alexander Burgueño/Creative Commons
O pesquisador Dirk Schulze-Makuch, professor da Universidade Técnica de Berlim, e seus colegas fizeram uma viagem ao deserto em 2015 para saber mais sobre o tipo de vida que podia existir ali.

Então, inesperadamente, choveu.

Os cientistas detectaram uma explosão de atividade biológica no solo, e rapidamente começaram a usar colheres esterilizadas para coletar amostras.

Análises genômicas ajudaram a identificar as várias espécies aparentemente nativas de vida microbiana - em sua maioria bactérias - que de alguma forma se adaptaram para viver no ambiente hostil, ficando inativas por anos, para depois se reanimarem e reproduzirem quando chove.

Água, fonte de vida

"No passado, pesquisadores encontraram organismos moribundos perto da superfície e restos de DNA, mas esta é realmente a primeira vez que alguém conseguiu identificar uma forma persistente de vida vivendo no solo do deserto do Atacama", afirmou Schulze-Makuch.

"Acreditamos que essas comunidades microbianas podem ficar adormecidas por centenas ou mesmo milhares de anos em condições muito parecidas com o que você encontraria em um planeta como Marte, e depois voltar à vida quando chove".

Os cientistas voltaram ao Atacama em 2016 e 2017 para visitas de acompanhamento e descobriram que as mesmas comunidades microbianas do solo estavam retornando gradualmente ao estado latente.

Mas elas não morreram completamente. Os organismos unicelulares, encontrados principalmente nas camadas mais profundas do deserto, "formaram comunidades ativas por milhões de anos e evoluíram para lidar com as condições difíceis", disse o estudo na Pnas.

Uma vez que Marte teve oceanos e lagos há bilhões de anos, os pesquisadores dizem que as primeiras formas de vida podem ter prosperado ali também.

As agências espaciais do mundo estão enviando veículos robotizados para Marte em uma tentativa de descobrir sinais de vida, mas qualquer tentativa de trazer amostras para a Terra será cara e complicada.

Schulze-Makuch disse que a pesquisa pode ajudar os cientistas a encontrar maneiras de estudar os micróbios marcianos, que podem ter evoluído para se adaptar ao clima mais frio e seco do planeta ao longo do tempo, como os micróbios do Atacama.

"Nós sabemos que há água congelada no solo marciano, e pesquisas recentes sugerem fortemente quedas de neve noturnas e outros eventos de umidade aumentados perto da superfície", disse.

"Se a vida já evoluiu em Marte, nossa pesquisa sugere que poderia ter encontrado um nicho subterrâneo abaixo da superfície gravemente hiper-árida de hoje".