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Pesquisadores encontram resíduos radioativos presos nas geleiras

10/04/2019 20h11

Viena, 10 Abr 2019 (AFP) - Pesquisadores alertaram sobre resíduos radioativos, derivados de acidentes nucleares civis ou de testes nucleares, presos nas geleiras do mundo e que poderiam ser liberados pelo derretimento vinculado ao aquecimento global.

Uma equipe internacional de cientistas analisou a presença de resíduos radioativos nos sedimentos de superfície das geleiras do Ártico, na Islândia, dos Alpes, do Cáucaso, da Antártica e do oeste do Canadá.

Encontraram resíduos radioativos nos 17 locais analisados, muitas vezes com concentrações 10 vezes superiores aos níveis encontrados em outros lugares.

"São os níveis mais elevados medidos no meio ambiente fora das zonas de exclusão nucleares", explicou Caroline Clason, da Universidade de Plymouth.

Quando os elementos radioativos se desprendem para a atmosfera, caem na terra com as chuvas ácidas, e podem ser absorvidos pelas plantas e solos.

Mas quando caem sob a forma de neve e se instalam sobre o gelo, formam sedimentos mais pesados, que se acumulam nas geleiras.

O acidente de Chernobyl em 1986 provocou nuvens radioativas com césio, que provocou depois chuvas ácidas e contaminações na Europa do Norte.

"Quando (os elementos radioativos) caem sob a forma de chuva, como depois de Chernobyl, são evacuados, é um fenômeno pontual. Mas sob a forma de neve, isto fica no gelo durante décadas, e com o derretimento das geleiras pelo aquecimento, terminam nos rios", continua a pesquisadora.

Sua equipe detectou alguns resíduos de Fukushima, mas grande parte dos elementos desprendidos neste acidente em 2011 não se amontoaram ainda nos sedimentos das geleiras, aponta.

Em vários locais os pesquisadores encontraram rastros de testes militares de armas nucleares.

"São testes que começaram nos anos 1950 e 1960, quando se desenvolvia a bomba", indicou Caroline Clason.

"Ao estudar uma amostra de sedimentos, vemos claramente um pico no momento de Chernobyl, mas também um pico relativamente preciso por volta de 1963, período intenso de testes nucleares".

Com o aquecimento e o derretimento, a pesquisadora se alarma em particular com a entrada na cadeia alimentar de um dos resíduos potencialmente mais perigosos, o amerício, que é obtido com a degradação do plutônio e que tem uma meia-vida de mais de 400 anos (em comparação com 14 anos do plutônio).

"O amerício é mais solúvel no meio ambiente e emite mais radiações alfa", aponta.

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