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Teste indica se você tem habilidade rara de reconhecer rostos

Estudos apontam que não reconhecemos rostos por suas características individuais, mas por seu conjunto  - Thinkstock
Estudos apontam que não reconhecemos rostos por suas características individuais, mas por seu conjunto Imagem: Thinkstock

17/06/2015 08h26

Você consegue reconhecer rostos muito bem? Se tiver esta habilidade, pode fazer parte de um grupo especial da polícia britânica.

Os "super-reconhecedores" identificam até 80% dos rostos que já viram, diante do índice de 20% de acerto entre pessoas comuns, e estão colaborando para reconhecer criminosos em fotografias borradas e imagens de câmeras de segurança.

Um novo teste da Universidade de Greenwich, no Reino Unido, permite avaliar se uma pessoa tem esta habilidade. Ele dura apenas cinco minutos. São exibidas fotos de rostos por oito segundos e, depois, é preciso identificá-los entre oito opções.

Se sua nota for superior a dez, você pode fazer parte dos 1% da população mundial de super-reconhecedores.

"Conseguir reconhecer as pessoas que estão fora de um determinado contexto pode ser um dos indícios dessa habilidade. Outro indício é se você é do tipo que é melhor em reconhecer os outros do que os outros em reconhecer você", explica à BBC o psicólogo Richard Russell, do Gettysburg College, na Filadélfia (EUA), o primeiro a cunhar o termo "super-reconhecedor", em artigo publicado em 2009.

Talento

Cientistas estão apenas começando a entender por que algumas pessoas têm essa habilidade e como ela funciona.

Russell começou a se interessar pelo assunto em 2006, quando estava na Universidade Harvard e estudava a prosopagnosia, um distúrbio cognitivo que afeta a capacidade de reconhecer rostos.

O pesquisador descobriu se tratar de um problema muito mais comum do que imaginava - cerca de 2% das pessoas que testou sofriam do distúrbio.

"Então, pensei que deveria haver pessoas no outro extremo, com capacidades extraordinárias", conta Russel, que identificou super-reconhecedores em todo o território americano.

Na mesma época, Mick Neville, chefe da equipe de imagem forense da polícia de Londres, começou a notar que eram sempre os mesmos policiais que identificavam criminosos, muitas vezes a partir de imagens de péssima qualidade.

"Queria encontrar um psicólogo que pudesse testar essas pessoas e descobrir como suas mentes poderiam trabalhar ainda melhor", conta Neville, que se associou a Josh Davis, da Universidade de Greenwich.

Os testes de Davis consistiam em pedir para que policiais identificassem um número de celebridades menos conhecidas em imagens distorcidas e que eles memorizassem rostos completamente novos e os encontrassem em outras fotos.

Pouco depois desses testes, em 2011, Londres foi tomada por uma onda de saques e vandalismo. As imagens capturadas pelas câmeras de segurança tiveram que ser analisadas rapidamente.

Aí entraram em cena vinte super-reconhecedores escolhidos por Davis, que tiveram que examinar quase 5 mil imagens. Eles conseguiram identificar 609 suspeitos - 65% deles acabaram sendo indiciados. O evento virou a mesa para a equipe de Neville.

Esforço global

O inspetor e o psicólogo hoje ajudam polícias de vários países, como China e Canadá, a descobrirem seus próprios super-reconhecedores.

O maior talento da polícia de Londres é Gary Collins, policial que atua na unidade de gangues de Hackney, um dos bairros mais violentos da capital britânica.

"Eu sempre gostei de arte, e trabalhei como designer gráfico antes de entrar para a polícia. Acho que meu talento está ligado a essa atenção com detalhes e ao reconhecimento de padrões repetitivos", conta.

Apesar de os cientistas ainda estarem tentando entender como funciona o cérebro de pessoas como Collins, eles já sabem que a maior parte da capacidade de reconhecer um rosto é processado no giro fusiforme - uma área longa e estreita do cérebro que também processa cores.

Psicólogos evolucionistas são particularmente curiosos quanto aos "super-reconhecedores" porque o rosto, além de estar ligado à identidade de pessoas, está ligado também à nossa compreensão do mundo.

Um bebê recém-nascido consegue diferenciar o rosto de sua mãe do de outra mulher com apenas dois dias de vida. Bebês com mais capacidade de reconhecimento facial tendem a ser mais extrovertidos e estabelecem relações de confiança mais rapidamente.

Em novembro de 2011, o psicólogo Ash Jansari, da Universidade de East London, no Reino Unido, conduziu um dos maiores estudos sobre o assunto. Ele recrutou mais de 700 visitantes a um museu de Londres, com idades entre 6 e 74 anos, e usou os mesmos testes feitos por Russell em Harvard. O resultado sugere que cerca de 1% da população pode ser "super-reconhecedor".

Outros estudos indicam que não existem pessoas melhores do que outras no reconhecimento de objetos. "Isso sugere que o cérebro utiliza um alto nível de processamento para memorizar rostos", afirma Jansari.

As pesquisas também demonstraram que nós processamos um rosto da mesma maneira: como uma unidade e não uma coleção de características individuais.

Computadores

O psicólogo Davis também atua em um grupo de pesquisadores internacionais em um projeto que visa criar algoritmos capazes de filtrar dados vindos de câmeras, celulares e redes sociais, facilitando o trabalho desses policiais.

Mas ainda é cedo para nos incomodarmos com a ideia de que computadores substituirão humanos nessa função. Kelly Gates, que estuda o reconhecimento facial automático na Universidade da Califórnia, em San Diego, acredita que os dois coexistirão pacificamente.

"O ser humano sempre será muito melhor em identificar um rosto do que um um computador", afirma.

Além disso, o super-reconhecimento - por humanos ou por máquinas - poderá, no futuro, ajudar a identificar testemunhas confiáveis em processos criminais. Ou ainda levar os cientistas a compreender melhor a formação de imagens na memória.

Resposta do teste: Número 1.