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As 'condições perfeitas' que fazem com que o furacão Irma seja mais poderoso e perigoso do que se esperava

Foto: AFP
Imagem: Foto: AFP

07/09/2017 06h16

Com ventos de até 298 km/h e um tamanho similar ao da França, o furacão Irma - que já alcançou as ilhas caribenhas de Anguilla, Antígua e Barbuda e agora se dirige em direção a Cuba, Porto Rico e o Estado americano da Flórida - já garantiu seu lugar nos livros dos recordes.

Até o momento, ele é o segundo mais poderoso registrado na história do Atlântico, seguindo de perto o furacão Allen, cujos ventos superaram os 300 km/h em 1980.

Sua força é tamanha que sua presença foi detectada inclusive por sismógrafos da região - instrumentos que registram movimentos do solo.

E, segundo alertaram meteorologistas à BBC, seu impacto pode ser muito maior do que o antecipado.

Mas por que o Irma se tornou tão poderoso?

Rua após passagem do furacão Irma pela cidade de Gustávia, capital de São Bartolomeu (território francês), no Caribe - Kevin Barrallon/Facebook/AFP Photo - Kevin Barrallon/Facebook/AFP Photo
Rua após passagem do furacão Irma pela cidade de Gustávia, capital de São Bartolomeu (território francês), no Caribe
Imagem: Kevin Barrallon/Facebook/AFP Photo

Condições perfeitas

A princípio, é preciso esclarecer que os furacões que alcançam a categoria 5 - a mais alta, quando os ventos superam a marca dos 252 km/h - nas águas do Atlântico são raros e em geral frágeis.

De fato, todos os outros furacões do Atlântico com uma força similar se formaram no Mar do Caribe ou no Golfo do México.

Eles precisam de condições específicas para que alcancem ventos velozes para se manter, já que a maior parte deles se enfraquece antes de chegar em terra.

No caso do Irma, todas as condições para produzir um furacão intenso no Atlântico estão presentes, segundo disse à BBC Mundo Julian Heming, especialista do Serviço Meteorológico Nacional do Reino Unido, conhecido coloquialmente como Met Office.

Confira quais são estas condições:

  • As temperaturas do mar abaixo do Irma estão de 1º a 1,5ºC mais elevadas que a média para esta época do ano, carregando mais umidade e calor.
  • O cisalhamento ou tesoura de vento - como são chamadas as mudanças de velocidade ou direção das correntes - é baixo. Isto quer dizer que o ar pode se mover para cima e para fora do furacão de forma muito ágil, promovendo assim sua intensificação.
  • Não há atualmente elementos que contribuam para "secar" o clima local - reduzir a umidade -, como, por exemplo, nuvens de poeira do Saara que às vezes circulam sobre o Atlântico.
  • O Irma se move rápido o suficiente para evitar que a água mais fria abaixo do furacão tenha impacto sobre o ar úmido e quente que o alimenta.
  • Até o momento, não houve interação importante com grandes massas de terra que poderiam interromper o processo de intensificação, cortando o suprimento do ár úmido.

Conexão com chuvas africanas

Alguns especialistas sugerem que as intensas e incomuns chuvas na África Ocidental, que têm um papel na formação deste poderoso sistema de tormentas no Atlântico, também influenciaram o Irma.

No entanto, na opinão de Heming, este não necessariamente é um fator de influência.

"O Irma se originou a partir de uma onda tropical", diz o especialista.

Esta onda é um sistema de relativa baixa pressão que se orienta do norte ao sul, movendo-se do leste ao oeste através dos trópicos.

"Estas ondas são também responsáveis pelas intensas chuvas estacionárias no oeste da África. Neste sentido, sim, há um vínculo", diz Heming.

"No entanto, há várias ondas que a cada ano causam um impacto na África e não formam tormentas tropicais, e outras que não têm um grande efeito na África, mas se desenvolvem uma vez que estão no oceano", conclui.