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As principais revelações da sonda Cassini antes de 'missão suicida' na atmosfera de Saturno

Cassini confirmou existência de oceano em Enceladus, e cientistas acreditam que satélite tem potencial para abrigar vida - Nasa
Cassini confirmou existência de oceano em Enceladus, e cientistas acreditam que satélite tem potencial para abrigar vida Imagem: Nasa

15/09/2017 11h44

Lançada em 1997, a sonda Cassini passou 13 anos explorando o sistema de Saturno.

Mas, nesta sexta-feira, a espaçonave foi desintegrada ao mergulhar, em altíssima velocidade, na atmosfera de Saturno. Segundo a Nasa, a agência espacial americana, o objetivo da destruição foi evitar que ela contaminasse as luas de Titã e Enceladus, que podem abrigar vida.

Assim, a nave se desmaterializou e fez parte do planeta que tem estudado desde 2004.

Confira uma seleção das principais descobertas da sonda:

Gêiseres

Imagens enviadas de volta das missões dos anos 1980 da sonda Voyager mostraram que Enceladus, a lua de Saturno, de 500 km de diâmetro, tinha uma superfície muito suave e, portanto, relativamente jovem. Poderia ter sido renovada por algum processo desconhecido. Mas foi Cassini que descobriu os gêiseres de água congelada despontando no polo sul da pequena lua.

A água é jorrada em uma velocidade de 1,3 mil km por hora através de orifícios que estão conectados a um oceano salgado abaixo da cobertura de gelo. A água é considerada um ingrediente essencial para a vida como a conhecemos, o que faz de Enceladus um alvo na busca de uma biologia alienígena.

Além disso, ao sobrevoar sobre os jatos de água e "provando-os" com um aparelho a bordo da aeronave, Cassini pôde detectar a presença de grãos rochosos, metano e hidrogênio molecular.

A explicação mais provável para essas descobertas é a presença de aberturas para fluidos no fundo do mar. Na Terra, esses orifícios hidrotermais que jorram água superaquecida proveniente de um local abaixo do solo oceânico são cheios de vida.

A Enceladus revelou que habitats capazes de abrigar vida podem ser mais comuns do que pensávamos, colocando nossa própria existência em perspectiva.


Pousando em Titã

Em 14 de janeiro de 2005, a sonda europeia Huygens desceu até a densa atmosfera da maior lua de Saturno, Titã.

Huygens chegou ao ponto mais alto da atmosfera (uma altitude de 1.270 km) e sobreviveu à entrada hipersônica, usando um paraquedas para flutuar em direção ao solo, coletando dados por duas horas e 27 minutos.

Usando seus instrumentos de bordo, Huygens enviou fotos e fez uma descrição da atmosfera de Titã, incluindo dados como temperatura, pressão, densidade e composição.

"Havia uma camada atmosférica na qual os ventos iam de velocidades como 60 ou 70 km até zero, aumentando logo depois", disse o cientista do projeto Huygens Jean-Pierre Lebreton. "Isso ainda não foi propriamente explicado".

A sonda enviou dados da superfície por outros 90 minutos até que Cassini - que estava enviando os dados à Terra - desapareceu no horizonte, interrompendo as comunicações. Até hoje, é a maior distância da Terra em que uma espaçonave enviada já pousou.

As descobertas da Huygens foi que fizeram a Nasa temer a possibilidade de contaminação em Saturno e, anos mais tarde, decidir pelo "suicídio" da Cassini.


Lua igual, mas diferente

Cassini e Huygens mostraram Titã como uma versão da Terra "através do espelho". A temperatura de sua superfície de -179 graus Celsius implica que os hidrocarbonetos desempenham muitos papéis que a água tem no nosso planeta. Titã tem um ciclo de estações, com ventos, chuva de metano e mares, montanhas de gelo e dunas de areias de "plástico".

Três mares escuros de metano estão no pólo norte de Titã - sendo que o maior deles, o mar Kraken, é maior que o Lago Superior da América do Norte. Ao redor desses mares, há numerosas extensões de líquidos.

A Cassini registrou pequenas ondas na superfície de um mar e uma característica misteriosa em outro que foi apelidado de "ilha mágica". Icebergs, ondas e bolhas de gás saindo do solo oceânico são possíveis explicações para esse último fenômeno.

Titã também tinha uma química extraordinariamente complexa e orgânica em sua atmosfera. De fato, alguns cientistas acreditam que pode ser uma semelhante com a atmosfera que nutriu a vida na Terra antigamente - oferecendo um vislumbre sobre nosso próprio passado primordial.

A Enceladus não é a única lua com um oceano - Titã também tem uma extensão de líquido embaixo de sua superfície. Mas esse oceano provavelmente é composto de água misturada com amônia.


Anéis dinâmicos

Cassini revelou que o sistema de anéis de Saturno é um ambiente ativo e dinâmico. Aliás, os anéis são um laboratório para a forma como planetas se formam ao redor de estrelas jovens. Cientistas pensam que a forma como luas inseridas ali fazem "vãos" pode ser semelhante à maneira como corpos maiores formaram o disco de poeira e gás que orbitou o sol bilhões de anos atrás.

A Cassini observou estruturas previamente desconhecidas nos anéis e testemunhou o possível nascimento de uma jovem lua. Dados da missão podem finalmente começar a responder um dos maiores mistérios sobre Saturno - como e quando os anéis se formaram.

Em 2017, pouco antes do fim da missão, cientistas anunciaram descobertas preliminares sugerindo que eles eram relativamente jovens - talvez 100 milhões de anos de idade. Isso pode indicar que estamos apenas vivendo em um momento especial da história em que Saturno tem anéis.


Força de tempestade

A espaçonave da Nasa observou tempestades gigantes em ambos os pólos de Saturno. Para dar uma noção de perspectiva, o olho de um furacão no norte de Saturno tinha uma largura de 2 mil quilômetros. Isso é 50 vezes maior que um furacão médio na Terra. As velocidades dos ventos lá pode chegar a 504km por hora.

O olho da tempestade do pólo norte se movimenta em redemoinhos com uma corrente de "ar" com seis lados. Ninguém tem muita certeza sobre como essa corrente hexagonal de ar é formada - algo deste tipo jamais foi visto em outro planeta.

No entanto, usando simulações de computador, cientistas conseguiram mostrar como essas características podem ser formadas a partir da interação de diferentes correntes de ar. Diferentemente de furacões na Terra, que geralmente duram dias, essa tempestade existe por no mínimo décadas, talvez séculos.