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'Espetáculo e violência': 11 fatos curiosos sobre o passado da Odontologia

Sorrir ou não sorrir, eis a questão - Getty Image
Sorrir ou não sorrir, eis a questão Imagem: Getty Image

04/01/2018 09h09

Se você soubesse como os dentes eram tratados no passado, talvez pensasse duas vezes antes de sentir medo de ir ao dentista - ainda que, para alguns, esse temor realmente seja uma fobia.

Richard Barnett, pesquisador da história da ciência, foi a fundo nessa investigação: em seu livro The Smile Stealers: The Fine and Foul Art of Dentistry ("Os ladrões de sorrisos: a fina e suja arte da Odontologia", em tradução livre), ele resgata o modo como diferentes sociedades em várias épocas lidavam com problemas como cáries e métodos de higiene bucal.

"Acredito que a razão pela qual tememos (a Odontologia) de uma forma diferente de outros ramos da medicina é que ela é ainda muito física: estamos muito conscientes quando nos sentamos naquela cadeira e sentimos aqueles dedos com luvas entrarem na boca, tocando nossas bochechas e tateando nossas gengivas. Nós sentimos aquele calor ", disse Barnett à BBC.

É uma história de espetáculo e violência

Richard Barnett, autor de "Os ladrões de sorrisos: a fina e suja arte da odontologia" (em tradução livre)

Selecionamos 11 histórias do livro do historiador - que vão da "reutilização" de dentes de mortos à disputa pelos sorrisos mais saudáveis na Guerra Fria.

1. Na tumba

Alguns dos exemplos mais antigos de cárie dentária foram encontrados em crânios do Egito Antigo. Acredita-se que elas fossem causadas por pães duros e vegetais fibrosos. E nenhuma escova de dente ou artefato de cuidados dentários foram encontrados em qualquer um dos túmulos.

2. Vermes

Uma das primeiras explicações para as cáries dentárias foi a ideia de que pequenos vermes ou demônios cavavam os dentes e gengivas. Os sumérios acreditavam que as terminações nervosas eram esses pequenos vermes - as quais tratavam de retirar.

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Dentadura postiça com base de ouro e dois dentes inferiores; imagem mostra cópia de item descoberto na Itália, de cerca de 700 a.C.
Imagem: Wellcome Library

3. Rainha com medo

Em decorrência de sua obsessão pelas sobremesas, a rainha Isabel 1ª, da Inglaterra, estava com os dentes pretos em 1578.

Naquela época, o açúcar era uma verdadeira iguaria.

Apesar da dor, a rainha recusava tratamentos. Assim, o bispo John Aylmer passou ele próprio por uma cirurgia, retirando um dente, para mostrar que a operação era menos dolorosa do que ela temia.

4. Espetáculos de dor

Na Idade Média, as extrações de dentes eram realizadas sem anestesia, em público e por barbeiros.

Para isso, era utilizado um instrumento amedrontador chamado "pelicano dental" e, mais tarde, uma "chave dental" - fórceps para a extração de dentes.

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Ilustração de um pelicano dental, no livro 'As obras de Ambroise Pare', de 1585
Imagem: Wellcome Library

5. Bochechadas de...

O médico francês Pierre Fauchard, que atuou entre o final do século 17 a princípios do século 18, é tido como o pai da Odontologia.

Ele é celebrado pelas explicações científicas da anatomia oral básica e por procedimentos dentários pioneiros, como a eliminação de cáries e transplantes dentários.

Mas ele também recomendava fazer bochechos generosos com... a própria urina.

6. Um toque de ópio

Andrômaco - o médico do imperador romano Nero (37-68 d.C.) - usava teriaga, um antídoto para venenos, para tratar dor de dente, bem como para todo tipo de doença.

Como ele dizia, se o antídoto não curava, sem dúvida fazia as pessoas se sentirem melhor - o que provavelmente era verdade, já que seu principal ingrediente era o ópio.

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Retrato de Santa Apolônia, padroeira da Odontologia, em um óleo de um seguidor de Francisco de Zurbarán
Imagem: Wellcome Library

7. A Guerra Fria chega aos dentes

Você sabia que escovar os dentes pode ser um ato político?

Durante a Guerra Fria, a propaganda oficial dos Estados Unidos dizia que uma boa saúde dental era a maneira ideal de demonstrar a superioridade sobre os bolcheviques.

Na União Soviética, também se pedia para que os cidadãos escovassem os dentes pela pátria-mãe.

8. O estado dos dentes nos Estados Unidos

Em média, o americano usa 38,5 dias em toda a vida para escovar os dentes. Mas, surpreendentemente, a obsessão americana com a saúde dental começou apenas depois da Segunda Guerra Mundial.

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Soldados da 2ª Guerra levaram aos EUA a importância dos cuidados bucais; na imagem, militares ao lado de Ernest Hemingway, que trabalhou como correspondente de guerra
Imagem: Getty Image

Os soldados americanos que haviam sido enviados ao exterior trouxeram de volta consigo a importância de manter os dentes limpos.

9. Dentaduras dos mortos

No século 19, os vivos usavam dentes postiços arrancados de cadáveres.

Depois da Batalha de Waterloo, ocorrida na região onde fica a Bélgica, foram retirados os dentes de 50 mil mortos, e isso não era um segredo: essas dentaduras ganharam o nome de "dentes de Waterloo".

10. Moda no Japão

No Japão, algumas mulheres buscam dentistas para que eles... deformem seus dentes.

A moda se chama yaeba e consiste em desalinhar, afinar e alongar os dentes. Segundo esse padrão estético, isso torna seus sorrisos mais ternos e inocentes, fazendo-as parecer mais jovens.

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A moda yaeba, no Japão, leva as mulheres a entortarem seus dentes
Imagem: Getty Image

11. Ingredientes interessantes

A pasta de dentes mais antiga de que se tem notícia foi desenvolvida pelos egípcios entre 3000 mil e 5000 anos a.C.

A composição incluía mirra, pedra-pome, cinzas e cascas de ovos.

Na Grécia e Roma Antiga, eram usados ossos e conchas de ostras trituradas.

Mais tarde, no século 16, a pasta de dente adotada na Inglaterra incluía substâncias que nos aterrorizariam hoje, como pó de tijolos, porcelana e talheres triturados, além de conchas de moluscos.

Atribui-se ao empresário inglês William Addis a confecção da primeira escova de dentes, em 1780, usando ossos de vacas e pelos de javali.

A primeira escova comercial surgiu na década de 1930, nos Estados Unidos.