O que havia antes do Big Bang e da aparição do Universo, segundo Stephen Hawking
Existia algo antes do começo de tudo?
Para além da explicação teológica de que existia Deus, que satisfaria os religiosos, os especialistas buscam resolver o enigma que não deixa descansar as mentes que se dedicam a estudar o assunto.
A ciência em geral aceita a teoria do Big Bang: o momento, há cerca de 13,8 bilhões de anos, no qual uma grande explosão de luz fez com que uma densa esfera da matéria se expandisse, tornando-se cada vez mais leve e diluída, gerando um Universo em expansão continua.
Muitos de nós, porém, continuamos a ter dificuldade para entender de maneira racional como que um pequeno ponto, menor que um átomo, continha uma densidade e uma energia inimagináveis capazes de fazer brotar tudo o que existe hoje.
Mais difícil ainda é entender o que havia antes do Big Bang.
O físico e pesquisador britânico Stephen Hawking, que morreu aos 76 anos nesta quarta-feira, tentou, recentemente, formular uma explicação inteligível para o grande público.
Em um programa de televisão dos Estados Unidos, divulgado no início deste mês, o astrofísico norte-americano Neil Tyson perguntoua Hawking: "O que havia antes do Big Bang?"
O nada
O cientista britânico respondeu que o que havia antes da grande explosão era... basicamente nada.
Mas não se assustem. Isso não quer dizer que não havia matéria. Ele se refere ao fato de que nada do que poderia existir antes do começo do Universo tem algo a ver com o que veio depois.
Portanto, o que existia antes não pode estar contemplado em qualquer teoria que formulemos para explicar nossas observações atuais.
Para Hawking, nenhuma lei da física se aplica até a ocorrência do Big Bang. O Universo evoluiu de maneira independente ao que havia antes.
Até a quantidade de matéria no Universo pode ser diferente do que havia antes da explosão, porque a Lei de Conservação da Matéria não se aplicaria ao Big Bang.
"De acordo com a teoria da relatividade geral de Einstein, o espaço e o tempo juntos formam um contínuo de espaço-tempo que não é plano, mas sim curvo, por causa da matéria e energia que contém", disse Hawking no programa.
"Eu adoto o enfoque euclidiano (tridimensional) à gravidade quântica para descrever o início do Universo, pelo qual o tempo real e ordinário é substituído pelo tempo imaginário, que se comporta como uma quarta dimensão do espaço", explicou.
"Na interpretação euclidiana, a história do Universo no tempo imaginário é uma superfície curva em quarta dimensão, como a superfície da Terra, mas com dimensões adicionais."
Mas o que isso tudo significa?
A forma de explicar isso é imaginarmos que estamos perto do Polo Sul, por exemplo. Se caminharmos um pouco para o sul, finalmente chegaremos ao polo, mas, uma vez ali, já não poderemos seguir mais ao sul.
As regras de direção e orientação que nos guiam normalmente na Terra não se aplicam.
"Não há nada ao sul do Polo Sul, portanto não havia nada antes do Big Bang", disse Hawking.
As conclusões do cientista se adequam à condição "sem fronteiras" do Universo que ele formulou em colaboração com James Hartle, da Universidade da Califórnia.
Em outras palavras, o contínuo de espaço-tempo é uma superfície fechada sem fim, como a superfície da Terra, sobre a qual podemos seguir caminhando eternamente sem cair dela.
Símbolo
Hawking ganhou fama internacional ao formular, nos anos 1960, a teoria da singularidade do espaço-tempo, aplicando a lógica dos buracos negros a todo o Universo. Ele também mudou a forma como vemos a Ciência hoje, ajudando a divulgar a física e a astrofísica.
No livro Uma Breve História do Tempo, best-seller lançado em 1988, ele explica ao público geral seus achados científicos.
O cientista também se tornou um símbolo de determinação por ser portador da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e ter sobrevivido a essa doença degenerativa por décadas.
Em 2014, sua história de vida dele foi contada no filme A Teoria de Tudo, vencedor de um Oscar.
Ele morreu em casa, na Inglaterra, na madrugada desta quarta. A morte foi comunicada pela própria família à imprensa britânica.
Esse texto, publicado originalmente em 8 de março de 2018, foi atualizado.
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