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O que é o Giro do Pacífico Sul, o enorme 'deserto marinho' considerado o lugar mais 'hostil' de todo o oceano

09/07/2019 07h01

Zona inóspita do oceano Pacífico, de área do tamanho de Rússia, China e EUA juntos, reúne várias condições que dificultam proliferação da vida marinha; mas resultados de uma nova expedição revelam novas pistas de como esse ecossistema sobrevive.

No meio do oceano Pacífico, há uma ampla região em que as condições naturais atrapalham o desenvolvimento da vida marinha.

Esse gigantesco "deserto marinho" tem sido chamado pelos cientistas de "o lugar mais hostil de todo o oceano".

É conhecido como o Giro do Pacífico Sul, que se estende por 37 milhões de quilômetros quadrados, desde as costas oeste da América do Sul até a Nova Zelândia, e desde o Equador até a Corrente Circumpolar Antártica. A região equivale, no total, às superfícies somadas de EUA, China e Rússia.

Sua superfície tem a água mais cristalina do mundo - o que, na verdade, é um sinal de quão "árida" e estéril é essa zona.

Embora o Giro represente 10% da superfície total dos oceanos, é também uma das regiões menos estudadas da Terra.

Agora, uma expedição do Instituto Max Planck, da Alemanha, revelou novas pistas sobre essa região e sobre como são as escassas e peculiares formas de vida que habitam ali.

Condições extremas

O Giro do Pacífico Sul é um dos cinco enormes sistemas de correntes circulares oceânicas.

Essas correntes impedem a entrada de águas mais ricas em nutrientes que podem vir de outras partes do oceano. Com isso, o nutritivo fitoplancton fica disponível apenas em profundidades superiores a 100 metros, tornando a superfície tão pobre quanto cristalina.

Nas áreas mais internas desse "deserto aquático", distantes de qualquer costa, o ar não leva partículas orgânicas vindas da terra, o que também impede que a água se nutra.

O fundo do Giro contém a menor quantidade de matéria orgânica que já se encontrou em profundidades marinhas.

Além disso, nessa região o sol se irradia de forma "perigosamente alta", segundo especialistas. Os níveis de raios ultravioleta no Giro são qualificados de "extremos".

Todos esses fatores dificultam que o lugar seja habitado por animais que abundam em outras partes do mundo.

A investigação do Instituto Max Planck, no entanto, mostra que no meio dessa paisagem marinha desolada há micro-organismos que encontraram formas curiosas de sobreviver sob condições tão adversas.

Durante seis semanas, uma equipe de microbiólogos percorreu de barco cerca de 7 mil quilômetros entre o Chile e a Nova Zelândia, recolhendo e analisando amostras da água - entre 20 metros e 5 mil metros de profundidade - enquanto navegavam.

"Surpreendentemente, encontramos cerca de um terço a menos de células nas águas superficiais do Pacífico Sul, em comparação com os giros oceânicos do Atlântico", disse em comunicado o microbiólogo marinho Bernhard Fuchs, coautor da pesquisa. "É provavelmente o menor número de células já registrados em águas oceânicas superficiais."

Comportamentos estranhos

Segundo os pesquisadores, apesar de esses micro-organismos serem minúsculos e escassos, eles têm uma grande influência na dinâmica do oceano, à semelhança dos ciclos de carbono em âmbito global.

Ainda não se sabe com precisão como esses organismos sobrevivem em um ambiente com tão poucos nutrientes.

Os biólogos, no entanto, encontraram casos de algas que estabelecem relações simbióticas com algumas bactérias, com as quais intercambiam substâncias essenciais como nitrogênio e açúcares, embora ainda seja um mistério onde obtêm os demais nutrientes, como fósforo e ferro, raramente encontrados por ali.

Durante a exploração, os cientistas também se deram conta que a "comunidade" de organismos variava fortemente à medida que aumentava a profundidade.

Isso se explica pela quantidade de luz que penetra na água. O surpreendente, no entanto, é que um organismo altamente fotossintético chamado Prochlorococcus se encontrava em poucas quantidades nas águas superficiais, onde há mais luz, e era abundante a 150 metros de profundidade, onde é mais escuro.

O contrário ocorreu com outro organismo chamado AEGEAN-169, que até agora só havia sido detectado em áreas cerca de 500 metros de profundidade, mas que os cientistas encontraram de maneira "particularmente numerosa" em águas superficiais do centro do Giro.

"Isso é algo que definitivamente vamos investigar mais", afirmou a microbióloga Greta Reintjes, coautora da pesquisa.

Embora o Giro do Pacífico Sul ainda guarde muitos enigmas, os pesquisadores acreditam que essas descobertas ajudem a entender melhor o funcionamento desse ecossistema e como ele afeta os ciclos vitais da Terra.


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