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Portugal se despede de ano trágico de incêndios que abalaram até a política

13/12/2017 21h27

Paula Fernández

Lisboa, 13 dez (EFE).- O ano de 2017 em Portugal foi marcado pela tragédia dos incêndios, que deixaram mais de cem mortos, arrasaram cerca de 450 mil hectares e inclusive geraram os primeiros atritos entre o governo socialista e o presidente conservador.

Na memória dos portugueses não existe um ano tão negro no que diz respeito às florestas. Os incêndios de 2003 atingiram 425 mil hectares, mas o número de vítimas não chegou nem perto do que foi registrado neste ano.

Embora o território lusitano já esteja acostumado a sofrer em todos os verões, desta vez a tragédia ocorreu em uma época diferente do habitual período de incêndios - entre julho e agosto - e com uma dimensão inesperada.

O primeiro impacto chegou no dia 17 de junho com o grande incêndio em Pedrógão Grande, no centro do país, que se estendeu aos municípios vizinhos e só foi totalmente controlado na semana seguinte.

O fogo deixou 64 mortos, mais de 250 feridos e prejuízos econômicos calculados em 500 milhões de euros. A tragédia uniu os portugueses em luto de três dias e, uma vez apagadas as chamas, chegou o momento de buscar respostas.

Foi criada uma comissão técnica independente para estudar o ocorrido. Além disso, o governo anunciou uma reforma florestal e convocou um conselho de ministros extraordinário sobre medidas de apoio às vítimas e à reconstrução das zonas afetadas.

Embora muitos tenham pedido a renúncia da ministra de Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, a política portuguesa se manteve no cargo por mais tempo graças ao apoio do governo.

Após um verão quente no qual os bombeiros tiveram que lutar contra as chamas em diversas ocasiões, mas sem vítimas, a fatalidade voltou a afetar no país em 15 de outubro.

Aquele dia, definido pela Proteção Civil como o pior do ano em matéria de incêndios, com mais de 500 fogos que arrasaram o centro e o norte do país, deixou outros 45 mortos e cerca de 70 feridos, centenas de residências e estabelecimentos comerciais destruídos com prejuízos que ainda não foram totalmente contabilizados.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, se dedicou a apoiar as vítimas, como já tinha feito em Pedrógão Grande, mas quando a situação ficou sob controle se dirigiu ao governo para pedir respostas.

Em contraste com a posição de aliado que havia mantido até o momento para manter a estabilidade política, Rebelo de Sousa pronunciou em outubro o discurso mais duro de seu mandato, no qual exigiu com urgência um "novo ciclo" para implementar as "reformas inadiáveis" que a tragédia requeria.

O governante, que possui uma enorme popularidade entre os portugueses, pediu ao Parlamento que clarificasse o seu apoio ao gabinete do primeiro-ministro António Costa, que governa em minoria e sobre o qual pesava uma moção de censura que acabou superando.

As palavras de Rebelo de Sousa precipitaram a renúncia da ministra de Administração Interna em menos de 24 horas e foram vistas pela opinião pública como a primeira rachadura na relação entre o governo socialista e o presidente conservador.

Os devastadores incêndios também motivaram milhares de cidadãos a ocupar as ruas para exigir soluções, no mesmo dia que o governo aprovou um pacote global de ajuda às vítimas e à reconstrução das regiões afetadas com centenas de milhões de euros.

O desastre levou Portugal a solicitar a ajuda do Fundo de Solidariedade da União Europeia (UE), que já foi aprovada para o caso de Pedrógão Grande e ainda está em fase de análise para os incêndios de outubro.

A solidariedade também foi manifestada pelo povo português através de várias doações, que derivaram uma campanha da Federação Portuguesa de Futebol que arrecadou mais de 700 mil euros para ajudar as vítimas.

Nesta reta final do ano, os moradores das regiões afetadas começaram a reconstruir as residências e os estabelecimentos comerciais. Também foi dado início ao processo de reflorestamento nas áreas afetadas.