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Cidade do México precisa resgatar rios que "negou" nos últimos 70 anos

15/02/2018 10h01

Ivette Mota.

Cidade do México, 15 fev (EFE).- A grande cidade de Tenochtitlán (capital asteca) foi fundada sobre a água rodeada por uma extensa área lacustre. Nesse tempo, a água potável provinha de vários rios, lagos e mananciais, como os de Chapultepec, Santa Fé, o Deserto dos Leões e Xochimilco.

A partir do século XX, estas abundantes fontes de água foram reduzidas ao abastecimento e substituídas por poços profundos, desperdiçando grande parte da água limpa desses rios, lagos e mananciais, perdendo os ecossistemas vivos.

"A Cidade do México negou seus rios nos últimos 70 anos, canalizou muitos dos afluentes; os moradores esqueceram, mas as cidades necessitam de seus rios", disse em entrevista à Agência Efe o urbanista Alejandro Echeverría.

Echeverría, parte do conselho da organização civil Quatro ao Cubo, enfatizou que um dos objetivos do seu grupo é promover o resgate dos rios "negados" da Cidade do México, como está sendo feito em outras cidades no mundo.

O urbanista ressaltou a necessidade de os cidadãos redescobrirem a cidade através de espaços abertos, se apropriando-se deles com a regeneração dos rios, a criação de sistemas de terrenos úmidos artificiais, captação de água de chuva e parques lineares como foi feito com o Ecoducto do Rio La Piedad na Cidade do México.

Além disso, destacou a importância de reverter a deterioração territorial das cidades para melhorar a saúde humana e ambiental.

O arquiteto Elías Cattan, diretor do escritório de "arquitetura regenerativa" Oficina 13, acrescentou que o parque hídrico de La Quebradora (na zona de Iztapalapa) e os jardins infiltrantes (em Miguel Hidalgo) também são alguns dos projetos na Cidade do México que buscam recuperar bacias hidrográficas e ecossistemas vivos.

Cattan, professor de projeto e teoria ambiental na Universidade Ibero-Americana que se dedicou a entender sistemas vivos como ecossistemas e cidades, afirmou que uma bacia saudável nos fornece grandes recursos como água, comida e ar limpo.

"Uma cidade não pode se manter sem esses recursos; falar de rios é parte de uma aprendizagem para a sociedade civil e governos", acrescentou.

Resgatar os rios da Cidade do México "é um investimento para melhorar nossa água, nosso ar e ter uma melhor qualidade de vida", indicou Cattán.

Jorge Legorreta Gutiérrez, um dos urbanistas mais importantes do México, na sua obra "Os Rios da Cidade do México: passado, presente e futuro", diz que para o ano 2040 a Cidade do México se unirá com Pachuca, Toluca, Cuernavaca e Cuautla para criar uma megalópole de 35 milhões de habitantes, o que aumentará a escassez de água e porá a cidade em um estado vulnerável.

O autor argumenta que as "modernas" concepções urbanísticas para construir a cidade se fundamentaram em utilizar os rios e os seus lagos como drenagens, e com isso se elimina a possibilidade de conservá-los como elementos naturais.

O arquiteto Cattan defendeu que estamos em uma situação muito precária em termos de água, e ressaltou a importância de transitar de uma infraestrutura cinza a uma verde.

"Nova York conseguiu, conta com mais de mil jardins infiltrantes, e Cingapura é um exemplo extraordinário de infraestrutura verde", exemplificou.

"Cidades mais sustentáveis e verdes são cidades mais humanas. A cidade precisa de nós, necessita de seus rios, e quanto antes nos dermos conta, menos custoso será", concluiu Cattan.