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Armadilhas de laço ameaçam fauna do sudeste da Ásia

25/06/2018 09h59

Noel Caballero.

Bangcoc, 25 jun (EFE).- Desde enormes elefantes até os menores roedores, animais têm desaparecido de florestas inteiras do sudeste da Ásia devido ao uso disseminado de armadilhas de laço por parte dos caçadores ilegais, denunciam especialistas conservacionistas.

As presas vão parar diretamente no mercado negro, onde são usadas como ingredientes para a medicina tradicional, ornamentar lares e alimentar o insaciável apetite das classes poderosas pelos pratos de carnes exóticas.

"Algumas florestas do Vietnã e do Laos são conhecidas como 'florestas vazias'. Ainda têm árvores, mas devido à grande quantidade de armadilhas, a maioria das espécies foi caçada até sua extinção", disse à Agência Efe Thomas Gray, pesquisador da Wildlife Alliance.

Um cabo de ferro ou uma corda servem para criar este simples mecanismo que captura animais de maneira indiscriminada e representa um dos maiores perigos para a grande diversidade de fauna da região.

Mais de 109 mil armadilhas de laço foram inutilizadas somente no Parque Nacional Cardamomo - no sudoeste do Camboja -, entre 2010 e 2015, pelos guardas, segundo os números do estudo: "A crise na vida selvagem por causa das armadilhas de laço: Uma maliciosa e onipresente ameaça para a biodiversidade do Sudeste Asiático".

Em outras quatro reservas naturais e santuários do Camboja, Laos e Vietnã também foram detectados - durante o mesmo período - cerca de outros cem mil dispositivos.

Na última década, houve um aumento progressivo no uso destas armadilhas de fabricação caseira, baratas e de fácil disposição, assegura Gray, co-autor do estudo publicado na revista "Biodiversity and Conservation".

"Agora existe uma grande preocupação pelo frequente uso deste tipo de armadilhas no Camboja e em Mianmar (...), embora seja um problema em todo o Sudeste da Ásia", disse Gray.

A prática, além disso, se espalha pelas florestas de países da região como Tailândia e Indonésia e tem como destino principal saciar o apetite pela carne exótica entre a crescente classe média.

"Há um alto nível de demanda de carne de animais selvagens como um bem de luxo para consumo (...) É possível colocar uma armadilha de laço para porcos selvagens, elefantes, tartarugas ou qualquer animal que passe por ali", explicou o pesquisador.

A rede de distribuição do mercado negro pode fazer que uma peça caçada de manhã em um reserva natural da província cambojana de Koh Kong (sudoeste) possa estar nesse mesmo dia nos fornos dos restaurantes de Phnom Penh, assegurou o especialista.

O crescente desmatamento das florestas do Sudeste Asiático e o desenvolvimento de estradas - que deixam estes locais verdes a menos de um dia de viagem - são outros fatores que aumentaram a ameaça das espécies em uma das regiões com maior diversidade de fauna do mundo.

A dificuldade de localizar as armadilhas entre a espessa vegetação e a facilidade de substituí-las são algumas das dificuldades encontradas para combater a prática.

Nas patrulhas, os oficiais encontram em algumas ocasiões as presas em avançado estado de decomposição, especialmente aquelas com pouca demanda no mercado.

Nos raros casos nos quais o animal consegue escapar, este termina morrendo por infeções nos ferimentos causadas pela armadilha ou sobrevive "mutilado", o que dificulta sua capacidade de sobrevivência.

A Wildlife Alliance pede às autoridades locais reforço nas patrulhas de guardas, proibição do uso de armadilhas de laço e inclusive tornar ilegal o transporte de material para sua fabricação dentro das áreas protegidas; bem como combater os restaurantes onde há ofertas de carne de animal selvagem.