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Cuba ativa serviço de dados móveis com tecnologia 3G

06/12/2018 17h26

Yeny García.

Havana, 6 dez (EFE).- Cuba, um dos países mais desconectados do mundo, deu nesta quinta-feira um novo passo para a abertura da internet com a ativação do serviço de dados móveis com tecnologia 3G, muito esperado pelos cubanos apesar dos altos preços em comparação com o salário médio da ilha.

Desde bem cedo nesta manhã, o monopólio estatal de telecomunicações Etecsa começou a enviar mensagens de texto para avisar do início do novo serviço aos clientes que participaram dos três testes gratuitos realizados pela companhia este ano.

A maioria dos mais de 5,3 milhões de usuários cubanos de linhas móveis poderão conectar-se de seus telefones de forma escalonada nos próximos três dias, desde que paguem a tarifa de consumo de 10 centavos CUC (equivalente ao dólar) por megabyte ou comprem um dos quatro pacotes de dados, que vão desde 600 megabytes por 7 CUC a 4 gigabytes por 30 CUC.

"Para mim é muito benéfico porque não tenho telefone fixo nem acesso à internet em casa. É um pouco cara, mas é preciso fazer sacrifícios", afirmou Henry, um técnico de informática que deixou seu emprego no setor estatal, onde o salário médio não supera US$ 30 mensais.

Os "memes" que ilustraram a expectativa pela chegada iminente do 3G brincaram sobre o sigilo em torno do assunto e têm lamentado, comicamente, que em breve na ilha será preciso escolher entre comer, vestir-se ou conectar-se, em referência ao alto custo de vida no país caribenho.

Na balança do cubano, no entanto, parece pesar mais o "impulso" que representa um maior e mais cômodo acesso à rede, porque já "não será preciso estar em um lugar específico para conectar-se", destacou Ángel Rafael, usuário de um dos 1.200 pontos públicos de WiFi abertos em todo o país desde 2015.

Há três anos, o governo cubano implementa uma "política de informatização" para corrigir o atraso histórico a respeito do resto do mundo quanto a conexão e tecnologias, dentro da qual autorizou também neste ano a comercialização de internet nos lares, antes só permitido a alguns profissionais.

A ativação da tecnologia 3G, que hoje só cobre 66% do território cubano, mantinha-se como o maior desafio para o Estado, que prometeu que antes que acabasse o ano seria possível acessar à internet de um telefone celular.

"Acredito que é um avanço no processo de facilitar o acesso à internet aos cubanos. Mas é preciso ver quão preparada está a infraestrutura de telecomunicações para suportar, com a qualidade requerida, esse tipo de serviço", advertiu à Efe Norges Rodríguez, cofundador do Yucabyte, projeto comunicativo focado nas tecnologias.

Rodríguez lembrou a pobre conexão nos testes gratuitos, que "comprometeu a estabilidade de outros serviços da rede móvel" como o texto e a voz, algo que agora teria sido solucionado, segundo garantiu a Etecsa na terça-feira passada.

Para o engenheiro e jornalista também influenciam as tarifas, pois embora não sejam "descabeladas" comparadas com as de outros operadores da área, no contexto cubano a internet por dados móveis se transforma em "algo longe do alcance da maioria da população".

"Hoje as políticas de acesso devem estar focadas em garantir que todos possam usá-las. O governo cubano deve traçar políticas públicas para acabar com a exclusão digital e considerar o acesso à internet um serviço básico a mais, como a eletricidade, a água potável, a educação pública ou a saúde", frisou.

Rodríguez chamou a atenção também para a "censura que acompanhou a chegada do acesso à internet em Cuba desde o seu início", uma prática que, em sua opinião, "deve desaparecer".

"Se já desapareceu o medo de que muitos se conectem, também deve desaparecer o medo de que escolhamos com que conteúdo nos informamos", ressaltou.

A conexão livre, rápida e barata à internet é ainda um assunto pendente para Cuba, que, com 11,1 milhões de habitantes, registra mais de 5,9 milhões de usuários de internet, segundo dados oficiais.

A banda larga é ainda muito fraca na ilha, onde se informou recentemente sobre negociações com empresas tecnológicas estrangeiras, entre elas o Google, sem resultados concretos nem confirmação por parte do governo cubano.