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Morte de Rosa Luxemburgo, ícone de "esquerda alternativa", completa 100 anos

15/01/2019 06h03

Rodrigo Zuleta

Berlim, 15 jan (EFE).- A Alemanha lembra nesta terça-feira o centenário do assassinato de Rosa Luxemburgo, ícone da esquerda, que ainda gera debates, livros e será alvo de homenagens em algumas cidades do país.

A ideia de que teria sido possível um marxismo alternativo ao soviético é algo que costuma ser associado a ela.

Entre as publicações recentemente lançadas sobre a teórica, uma nova biografia merece destaque, "Rosa Luxemburg: Ein Leben" ("Rosa Luxemburgo: Uma vida", em tradução livre), de Ernst Piper, assim como o romance gráfico "Rosa vermelha: Uma biografia em quadrinhos de Rosa Luxemburgo", de Kate Evans, e um livro focado somente no assassinato, "Eine Leiche im Landwehrkanal" ("Um corpo no Landwehrkanal", em tradução livre), de Klaus Gietinger.

O Landwehrkanal é um dos muitos canais de Berlim, que desemboca no rio Spree, e no qual foram jogados os corpos de Rosa e do também teórico e dirigente socialista Karl Karl Liebknecht após ambos serem assassinados por um grupo de soldados.

O lugar exato onde os corpos foram jogados, e onde atualmente há um monumento, foi há poucos dias o ponto de partida de uma excursão organizada por um grupo de historiadores de esquerda através de lugares relacionados às últimas horas de Rosa e Liebneck em meio a uma tentativa revolucionária fracassada.

Os nomes dos dois costumam ser mencionados simultaneamente não só por terem sido assassinados na mesma noite, mas também por que eles eram os líderes da dissidência social-democrata que levaria mais tarde à fundação do Partido Comunista Alemão (KPD).

Os mitos, no entanto, costumam ser mais relacionados a Rosa Luxemburgo. "Lutou sua vida por um partido pelo qual nem sequer podia votar", ressaltou o biógrafo Ernst Piper para destacar o quão singular era uma mulher que se transformou em uma das figuras políticas mais importantes de seu tempo em momentos em que o voto feminino era apenas uma utopia.

Nascida na Polônia em uma família judia, Rosa Luxemburgo estudou na Suíça, primeiro país europeu a aceitar mulheres nas suas universidades, e depois se mudou para a Alemanha, onde faria, após obter a nacionalidade do país, toda a sua carreira política.

Outro aspecto interessante que faz Rosa Luxemburgo se destacar em relação a outras personalidades históricas do marxismo são suas divergências com Lenin e a revolução russa.

Rosa Luxemburgo não acreditava, como afirma Piper em seu livro, em uma revolução feita por uma elite - Lenin via o partido como uma vanguarda revolucionária -, mas estava convencida de que a revolução teria que nascer de baixo, das massas.

Além disso, ela criticava a repressão da liberdade de expressão na então nascente Rússia soviética e dizia que "liberdade é sempre a liberdade para o que pensa diferente". E a revolução, de acordo com ela, deveria ser permanente, pois era um processo constante de aprendizagem.

Em 1931, Stalin declararia Rosa Luxemburgo inimiga daquela que, segundo ele, era a única revolução verdadeira, a do comunismo soviético. Com isso, segundo Piper, Stalin "assassinou" Rosa Luxemburgo pela segunda vez.

O distanciamento de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) se intensificou com a I Guerra Mundial, à qual eles e a ala esquerda da legenda se opuseram, mas vinha de mais tempo e estava ligada à divisão típica dos partidos de esquerda entre reformistas e revolucionários.

Ao fim da I Guerra Mundial, a divisão entre as duas alas se tornou mais feroz e definiria o tipo de Estado que a Alemanha deveria construir após a derrota.

A fundação do KPD (Partido Comunista da Alemanha) a partir da chamada Liga Espartaco criada por Rosa e Liebknecht foi vista pelos social-democratas reformistas como uma declaração de guerra.

Liebknecht acreditou que tinha chegado o momento de fazer a revolução na Alemanha. Rosa Luxemburgo era cética - dizia que uma revolução não se faz, é algo que simplesmente acontece -, mas o curso dos eventos a colocou à frente de um conflito no qual terminaria pagando com a própria vida.

Klaus Gietinger, em "Um corpo no Landwehkanal", defende a teoria de que os soldados que mataram Rosa e Liebknecht em 15 de janeiro de 1919 contavam com a cumplicidade das altas esferas do governo social-democrata e, sobretudo, do sub-comissário para o exército, Gustav Noske.

Piper, a partir das polêmicas de Rosa Luxemburgo com Lenin, afirma que ela é a prova de que teria sido possível um marxismo "além do leninismo". EFE