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Onda de frio na Síria mata crianças e agrava drama de deslocados

18/01/2019 06h03

Fátima Subeh Marzo e Yahya Nemah.

Kafriya (Síria)/ Beirute (Líbano), 18 jan (EFE).- Em um acampamento improvisado na província de Idlib, no norte da Síria, com poucos aquecedores a lenha e sem banheiros, o sírio Abu Khaled al Jabouri sobrevive com a família à espera do fim de uma onda de frio que já matou pelo menos 15 crianças no país.

"Só existem dois aquecedores em todo o acampamento, e não temos banheiros. Temos que andar um quilômetro para fazer as nossas necessidades", contou ele à Agência Efe na cidade de Kefraya, em Idlib, o último reduto de insurgentes opositores do governo do presidente Bashar al Assad.

As fortes chuvas e as baixas temperaturas castigaram o país nas últimas semanas, causando grandes prejuízos nos assentamentos. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou em 15 de janeiro que pelo menos 15 crianças - a maioria com menos de um ano de idade - morreram em um mês devido ao frio intenso em toda a Síria.

Segundo Jabouri, a situação nestas regiões do norte do país está "muito ruim, especialmente nos acampamentos", já que faltam serviços "básicos".

Ele trabalha no conselho local de Kafriya e revelou que ao longo das fronteiras administrativas da cidade existem quatro acampamentos, onde vivem cerca de 350 famílias, que fugiram por causa da violência que assola o país há oito anos.

A maioria dos civis desses acampamentos é de do leste e do norte de Hama, do sul de Idlib e do oeste de Aleppo, províncias do norte da Síria que foram palco de confrontos entre as forças leais ao governo sírio e os insurgentes nos últimos meses.

"As pessoas colocam colchões no chão e os lençóis em cima de cadeiras para evitar que a água da chuva os molhe", disse Faburi, um morador que pede urgentemente para que organizações humanitárias forneçam serviços de emergência aos deslocados para as condições de vida melhorarem.

Abu Khalil, outro deslocado, é do leste de Hama e teve que ir para Kafriya por causa dos contínuos bombardeios do governo sírio perto de onde ele morava.

"Lavamos a nossa roupa aqui, nestas panelas. Fico mal pelas pessoas de mais idade, não sei como podem levar a vida especialmente as mulheres, que não têm roupa suficiente nem para se esquentar, nem cobertores", relatou ele, que está há quatro meses em Kefraya.

Abu Khalil lembrou o dia de um enorme temporal.

"Entrou muita quantidade de água nas tendas, mesmo a gente tentando tirar. E isto aconteceu enquanto as crianças estavam dormindo", contou.

"Não existem tendas suficientes, nem nada para nós nos esquentarmos, nem cobertores, nem alimentos.", queixou-se.

Dos 15 menores de idade que morreram, segundo o Unicef, oito moravam no campo de deslocados de Rukban, que fica na fronteira entre a Síria e a Jordânia, onde convivem pelo menos 45 mil pessoas, sendo a maioria mulheres e crianças.

Por telefone, a chefe de comunicação do Unicef no Oriente Médio e norte da África, Juliette Touma, disse à Efe que essas mortes podiam ter sido prevenidas, mas era preciso fazer muito mais do que está sendo feito.

"As famílias assentadas neste tipo de acampamento precisam de móveis, itens de primeira necessidade, roupa, comida, medicamento, água limpa, eletricidade, assistência médica", enumerou.

Além de não contarem com isso, a situação piorou com as condições meteorológicas, já que durante o atual inverno "as temperaturas foram de em média de 10 graus na Síria, o que dobrou o tamanho dos problemas dos deslocados".

"Conseguimos enviar (a Rukban) somente dois comboios de ajuda humanitária durante o ano passado por causa das restrições que as organizações enfrentam", disse ela.

ONGs denunciaram em diversas ocasiões as dificuldades que os voluntários sofrem na Síria para chegar às zonas de conflito e desenvolver seu trabalho. EFE