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Fechamento de comporta de hidrelétrica mata "de sede" rio Cauca, na Colômbia

07/02/2019 20h23

Jeimmy Paola Sierra.

Medellín (Colômbia), 7 fev (EFE).- O caudaloso rio Cauca, o segundo mais importante da Colômbia, morre literalmente "de sede" devido ao fechamento de uma comporta na hidrelétrica em construção de Ituango, no departamento de Antioquia, que transformou seu leito abaixo da represa em um vale de pedras e areia no qual os peixes não conseguem sobreviver.

O desastre ambiental e ecológico tem, além disso, um impacto negativo na economia de milhares de ribeirinhos que tiram seu sustento da pesca e que agora olham desconsolados a paisagem desoladora do rio Cauca, que em alguns pontos pode ser atravessado a pé.

A dramática situação aflige as populações de Puerto Valdivia e Puerto Antioquia, assim como dos municípios de Cáceres e Tarazá, situados às margens do Cauca, e deixa em alerta as autoridades ambientais, que trabalham para evitar uma catástrofe maior.

"Nunca antes tivemos níveis tão baixos no rio Cauca", disse o ministro de Ambiente, Ricardo Lozano, após sobrevoar a região na quarta-feira.

O rio Cauca nasce no Maciço Colombiano, no sudoeste do país, e passa em direção ao norte por 180 municípios de sete departamentos até desembocar na Magdalena, a principal artéria fluvial do país.

Segundo informaram hoje as autoridades que atendem a emergência, com cerca de 700 pessoas que trabalham para proteger fauna desde Puerto Valdivia até La Mojana, nos departamentos de Sucre, Bolívar e Córdoba, a situação crítica do rio Cauca deixou pelo menos 39.965 peixes mortos, enquanto 146.894 foram resgatados e libertados.

"A mortandade de peixes que é muito grande. Ver o rio agora é como olhar um riacho", disse à Agência Efe o presidente da Associação de Mineiros e Pesqueiros Artesanais de Puerto Valdivia (Ampa), William Gutiérrez.

A imagem dos peixes entre o lodo e as rochas é vista pelos habitantes das comunidades ribeirinhas com "dor" e "incerteza" por um prejuízo que parece irreversível e que inclusive levou pescadores em Caucasia a realizar um funeral simbólico do rio Cauca.

"O rio está morrendo lentamente", expressou Gutiérrez, que manifestou que a hidroituango, uma central elétrica que tem como acionista majoritário o grupo Empresas Públicas de Medellín (EPM), provocou um "dano ambiental que não tem reparação".

A Autoridade Nacional de Aquicultura e Pesca (Aunap) trabalha para diminuir os "impactos negativos" da emergência que coloca em risco os recursos pesqueiros, a segurança alimentar dos pescadores e a atividade econômica das populações pela diminuição "dramática" do caudal do rio.

A hidroituango está em emergência desde maio do ano passado devido a diversos problemas geológicos e estruturais que obrigaram a EPM a implantar medidas de contingência como a inundação da casa de máquinas para evitar que as águas do Cauca rompessem a represa em construção.

Recentemente foram descobertas fissuras na casa de máquinas e para esvaziá-la foram fechadas as comportas a fim de encher o reservatório e depois evacuar a água pelo despejo, e a empresa calcula que nesta sexta-feira será "normalizado" de forma gradual o fluxo do rio Cauca.

Segundo EPM, seus engenheiros projetam ter no domingo à noite um vazamento de 450 metros cúbicos por segundo que corresponde ao caudal "ecológico" calculado pelas autoridades para manter vivo o rio.

Enquanto isso, o governador de Antioquia, Luis Pérez, qualificou hoje de "muito grave" o impacto ambiental ao concluir um percurso por Tarazá, Cáceres, Puerto Valdívia e Caucasia, onde também identificou um problema de desemprego "muito grande".

Pérez afirmou que os pequenos mineiros não podem trabalhar em um rio feito de "um nó de pedras", do qual não podem extrair o ouro.

"Aqui não só há um impacto ambiental muito grave e muito delicado, mas também dor e sofrimento nas pessoas. Em Cáceres temos alguns poços com milhares de peixes que estão morrendo", declarou Pérez a jornalistas. EFE