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O ser humano só passou a pronunciar os sons de F e V porque resolveu comer alimentos diferentes

Getty Images
Imagem: Getty Images

De Washington (EUA)

14/03/2019 18h25

Um novo estudo divulgado nesta quinta-feira pela revista "Science" defende que vários sons das línguas modernas surgiram recentemente devido às mudanças na alimentação dos seres humanos.

Aparentemente, a adoção de novos tipos de nutrição provocaram alterações nas mandíbulas e na forma de morder, o que permitiu que os seres humanos pronunciassem novos sons, como "f" e "v", letras presentes em grande parte das línguas faladas atualmente.

"Especialmente aqueles fonemas pronunciados ao tocar o lábio inferior com os dentes superiores - como, por exemplo, a letra "f" - cresceram nos últimos milênios com o desenvolvimento da agricultura e do processamento de alimentos", disse o pesquisador Steven Moran, da Universidade de Zurique, coautor do estudo ao lado de Damian Blasi e Baltashar Bickel.

Segundo a pesquisa, as condições biológicas foram subvalorizadas na hora de explicar o desenvolvimento dos fonemas humanos.

Até então, acreditava-se que os sons permaneceram sem alteração desde o surgimento do homo sapiens há 300 mil anos, independentemente de qualquer mudança posterior na biologia humana.

Mas a equipe de pesquisadores da Universidade de Zurique decidiu estudar como os sons e o discurso humano foram evoluindo, acompanhando ao mesmo tempo as mudanças na dieta que afetaram a mandíbula, especialmente após o abandono da caça e da coleta.

Dessa forma, eles provaram que uma alteração na estrutura dental adulta humana fez com que os dentes superiores crescessem um pouco mais do que os inferiores. A evolução ocorreu graças às melhores ferramentas para processar os alimentos e a uma dieta mais leve.

O novo estudo continuou uma pesquisa iniciada em 1985 pelo linguista Charles Hocket, que argumentou que as línguas que incluem grande quantidade de sons do tipo "f" e "v" são geralmente aquelas onde a população come mais "alimentos leves".

Bickel destacou que os resultados da pesquisa mostram que são "ainda mais complexos" os vínculos entre as práticas culturais, a biologia humana e a linguagem.

"Também desafiam a lenda urbana que, quando se trata de linguagem, o passado soa como o presente", explicou.