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Hipnose ajuda pacientes com medo de fazer exame de ressonância magnética

Tatiana Pronin

Editora do UOL Ciência e Saúde

27/07/2010 18h00

Para muita gente, hipnose é coisa de charlatão. Mas a técnica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (Parecer nº 42/1999), é aplicada por médicos, psicólogos e dentistas como terapia complementar para ajudar pacientes a vencer o tabagismo, a dor crônica e o medo patológico, entre outros problemas.

Um pequeno estudo conduzido no Hospital São Camilo, em São Paulo, mostra que a hipnose pode ser útil para pacientes que sofrem de claustrofobia (aversão a ambientes fechados, como elevadores) e precisam ser submetidos a exames de ressonância magnética. Quem já passou pelo procedimento sabe o quanto é desagradável: é preciso ficar imóvel e o barulho é forte.

De acordo com o cardiologista Luiz Velloso, do Grupo de Hipniatria e Hipnoterapia do hospital, cerca de 5% dos pacientes que precisam passar pelo exame simplesmente não conseguem entrar no equipamento. “A pessoa não para de se mexer, ou pede para sair”, conta.

Quando o medo torna o exame inviável, é preciso remarcar o procedimento e fazê-lo com sedativo, o que possui desvantagens: “No caso da ressonância cardíaca, por exemplo, é preciso pedir para o paciente interromper a respiração algumas vezes, o que não dá para fazer quando ele está sedado”. Além disso, a exigência do anestesista aumenta o prazo para marcação do exame, e o paciente precisa estar em jejum e acompanhado. Por tudo isso, surgiu a ideia de se utilizar a hipnose, técnica que o cardiologista aprendeu quando ainda era estudante.

Dos 20 pacientes que precisavam fazer o exame e não tinham conseguido em ocasiões anteriores, 18 foram suscetíveis à hipnose. Dois não compareceram e, ao todo, 15 completaram o exame em transe hipnótico, sem precisar de sedação, o que representou 93,8% de sucesso. O estudo foi publicado na revista “Radiologia Brasileira”, do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.

Consciência

Diferente do que se vê em filmes e circos, o transe não é um estado em que a pessoa fica insconsciente e totalmente vulnerável aos comandos do hipnólogo. “Você não consegue hipnotizar alguém que não queira”, explica Velloso, que compara a técnica a práticas meditativas.

Inicialmente, o paciente hipnotizado é convidado a imaginar que está em um ambiente relaxante e, então, o profissional começa a usar o sugestionamento. Para os pacientes que imaginavam estar em uma praia, por exemplo, o médico dizia que o barulho do equipamento de ressonância era o som das ondas.

Para a tradutora Elaine Pereira, que participou do estudo, o barulho da máquina foi associado a cachoeiras. “Eu fiquei consciente, mas é como se eu não estivesse lá”, lembra. Como outros pacientes, ela achou que o exame tinha demorado cinco minutos, quando na verdade chegou a quase uma hora.

No São Camilo, a hipnose também é utilizada em programas antitabagismo, no tratamento da dor crônica e da náusea provocada pela quimioterapia. “Não substitui remédios, não é milagroso, mas ajuda bastante”, garante. Também está em andamento um novo estudo, desta vez para tratamento em câmara hiperbárica, outro procedimento desagradável para quem não suporta ambientes fechados.