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Raças humanas não existem como entidades biológicas, diz geneticista

Kelly Cristina Spinelli

Do UOL, em São Paulo

05/02/2013 06h00

Se é inegável concluir que o racismo ainda existe – e tem força – a ideia de que a espécie humana pode ser dividia em raças está cada vez mais obsoleta.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, depois do nazismo, começaram a ser promovidos estudos que discutiam a ideia de raça na biologia e nas ciências sociais.

A inexistência das raças biológicas ganhou força com as recentes pesquisas genéticas.  Os geneticistas descobriram que a constituição genética de todos os indivíduos é semelhante o suficiente para que a pequena porcentagem de genes que se distinguem (que inclui a aparência física, a cor da pele etc) não justifique a classificação da sociedade em raças. Essa pequena quantidade de genes diferentes está geralmente ligados à adaptação do indivíduo aos diferentes meio ambientes.

No Brasil, Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, em conjunto com uma série de pesquisadores, publicou dezenas de artigos científicos na área. “Nossos estudos revelaram que em nosso país, a cor avaliada pela aparência das pessoas tem uma correlação fraca com o grau de ancestralidade africana estimada geneticamente. Em outras palavras, no Brasil, a nível individual, a cor, como socialmente percebida, tem pouca relevância biológica. Importantemente, cada brasileiro tem uma proporção individual única de ancestralidade ameríndia, europeia e africana”, diz Pena.

Para ele, a noção de raças humanas “é tóxica”: “Como uma casca de banana, o conceito de raça é vazio e perigoso. Vazio, porque sabemos que “raças humanas” não existem como entidades biológicas. Perigoso, porque o conceito de “raça” tem sido usado para justificar discriminação, exploração e atrocidades”, diz.

Para os sociólogos, o perigo é entendermos que se a raça biológica não existe, o racismo também não. “Antônio Sérgio Guimarães afirma que o conceito não faz sentido senão no âmbito de uma ideologia”, diz Márcia Lima, do departamento de sociologia da USP. “Não é necessário reivindicar nenhuma realidade biológica das “raças” para fundamentar a utilização do conceito em estudos sociológicos”.

“O problema é descontextualizar esses processos científicos do cenário histórico que os está produzindo. Eu compreendo racismo como um fenômeno social e não um biológico  As raças não existem, mas a mentalidade relativa às raças foi reproduzida socialmente”, concorda Gevanilda Santos, autora de Racismo no Brasil, entre outros livros sobre o tema.

A discussão é muito pertinente em um momento em que ações afirmativas baseadas em conceitos raciais, como a lei de cotas, surgem para tentar corrigir os problemas sociais ligados ao racismo.

Para os geneticistas, a conclusão de que a raça não está nos nossos genes pode ser mais uma ferramenta no combate ao racismo, já que corrige o erro histórico dos cientistas do passado.