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Clique Ciência: pedras podem mesmo prever eclipses como em Stonehenge?

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

07/10/2014 06h00Atualizada em 08/10/2014 08h08

Desde o início da Idade Média, o monumento de Stonehenge, em Salisbury, no Reino Unido, tem sido alvo de inúmeras especulações. Não faltam teorias malucas para explicar a origem desse santuário de pedras. A verdade é que, por mais que o local já tenha sido pesquisado à exaustão, ainda não existem respostas pendentes para todos os seus enigmas.

A cada dia surge uma nova descoberta sobre o monumento. No início deste mês, arqueólogos anunciaram que há ao menos 17 outros santuários neolíticos ao redor de Stonehenge. E muitos deles têm o mesmo desenho circular. A análise desses dados, que poderá levar anos, talvez ajude a desvendar o mistério em torno do lugar, que foi construído em três fases, a primeira em 3.100 a.C., de acordo com a datação por radiocarbono.

Os estudos que mostram a relação de Stonehenge com a astronomia começaram por volta de 1950, quando o engenheiro Alexander Thom e o astrônomo Gerald Hawkins, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram vários alinhamentos entre as pedras, dando início à arqueoastronomia, ou seja, o estudo da astronomia conhecida pelas antigas civilizações. Para Thom e Hawkins, estava claro que os povos responsáveis pela construção tinham enorme sofisticação matemática e habilidades em engenharia.

Uma coisa é certa, segundo os pesquisadores: embora o local seja associado aos rituais druidas, essa sociedade celta não teve nada a ver com a criação de Stonehenge. Os druidas só apareceram cerca de 1.500 anos depois que o último anel de pedra foi levantado.

Deuses ou astronautas?

Mas, afinal, o sítio está mais para templo ou para observatório? É possível que as duas coisas estivessem ligadas para os povos que o idealizaram."Provavelmente, a construção de Stonehenge foi motivada para o estudo astronômico, porém, com a finalidade de estabelecer uma conexão com os deuses", explica o astrônomo Eder Martioli, do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), em Minas Gerais, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Mais tarde, na Idade Média, o local foi adotado como templo de adoração e cultos religiosos e os povos que o frequentavam provavelmente não conheciam sua função astronômica.

Mas como é que um conjunto de monolitos é capaz de revelar informações sobre os astros? Algumas das pedras de Stonehenge, na formação original, estão alinhadas com pontos de referência no céu. É o caso da pedra central e a do Calcanhar ("Heelstone", em inglês),  alinhadas perfeitamente à direção do pôr do Sol no solstício de verão no Hemisfério Norte.
"As pedras centrais de Stonehenge também se alinham a outros eventos astronômicos, como o nascer ou pôr da Lua em diferentes épocas do ano. Esses alinhamentos demonstram que seus construtores estavam cientes dos pontos de referência no céu que definem ciclos astronômicos que utilizamos até hoje em nossos calendários, como a passagem do ano e das estações, ou a repetição dos eclipses", relata Martioli.

"O local possui, ainda, vários círculos com marcações feitas através de buracos escavados no chão (círculo Y, Z e Aubrey), que possibilitavam a contagem de tempo entre eventos que determinam os ciclos astronômicos".

Eclipses

É possível calcular a ocorrência de eclipses em Stonehenge, pelo menos em tese. "Um eclipse ocorre quando a Lua cruza o caminho do Sol (eclipse solar) ou quando a Lua cruza a sombra da Terra (eclipse lunar). Stonehenge permite verificar os pontos de passagem do Sol e da Lua em épocas específicas dos ciclos em que esses astros se movimentam no céu, como é o caso do solstício. A contagem do tempo entre a ocorrência de um evento e outro pode ser feita através das marcações no chão. Assim, é possível traçar o caminho destes dois astros (Sol e Lua) no céu, permitindo prever quando eles irão se cruzar", detalha o astrônomo do LNA.

"A ideia é bem simples, porém, na prática, isso exige alinhamentos precisos, fato comprovado pela existência de Stonehenge, de observações sistemáticas ao longo de muitos anos e registros escritos que pudessem ser acessados e comparados posteriormente", acrescenta.

Para muita gente, é incrível que as civilizações antigas tivessem tanto conhecimento. Por isso, muitos defendem que o local foi construído por astronautas de outros planetas, que já conheciam profundamente o Universo. Ainda são necessários anos de estudo para se ter mais detalhes sobre os povos que levantaram aquelas pedras tão pesadas -- algumas chegam a 50 toneladas. Mas nenhuma descoberta deverá acabar com a aura de mistério que envolve esse monumento, visitado por milhares de pessoas nos solstícios de verão e inverno.