Por que os bebês dão chutes dentro (e fora) da barriga?

Dentro da barriga, a partir das 18 ou 20 semanas de gravidez, eles parecem verdadeiros artilheiros. Depois que nascem, a mania de chutar continua a mil quando estão acordados, ora com as duas pernas ao mesmo tempo, ora como se estivessem pedalando. Antes de concluir que a criança vai mandar bem no futebol, pais de primeira viagem devem saber que esses movimentos são involuntários e fazem parte do desenvolvimento neuromotor dos bebês.

Tanto a movimentação antes de nascer quanto os típicos dos primeiros meses de vida são atos reflexos. É como quando alguém coloca o dedo na boca do recém-nascido e ele começa a sugar.

O desenvolvimento dos bebês depende do processo de maturação do sistema nervoso central, que é muito rápido antes do nascimento e no primeiro ano de vida. Aos poucos, as células nervosas formam sinapses, ampliando a comunicação entre elas, e muitas delas ganham uma capa protetora de mielina (substância gordurosa), o que torna a condução dos impulsos nervosos mais eficiente.

Quando estão dentro da barriga da mãe, os fetos inicialmente têm bastante espaço para se movimentar. Só depois de um tempo (entre o quarto e o quinto mês de gestação) é que a mãe começa a sentir a farra lá dentro, que parece uma borboleta batendo asas.

Conforme o espaço diminui, os chutes ficam mais explícitos para a grávida, chegando até a incomodar de vez em quando. Pouco antes do parto, o mexe-remexe diminui. Qualquer mudança brusca de padrão deve ser comunicada ao médico.

Reflexos primitivos

Nos primeiros meses, a mania de esticar e dobrar as perninhas o tempo todo pode ser comparada aos chamados reflexos primitivos, que os médicos costumam testar nas primeiras consultas de rotina. Um deles é o de busca: ao tocar a bochecha, a cabeça vira em direção ao estímulo e a boca se abre, pronta para sugar.

Outro é o da marcha: ao segurá-lo em pé, pressionando uma sola de cada vez na superfície, ele se movimenta como estivesse andando, o que costuma deixar os pais boquiabertos. Como o reflexo da preensão, que faz o bebê agarrar com força um dedo que lhe toca a palma da mão, esses comportamentos do recém-nascido duram poucas semanas.

O reflexo de Moro é outro exemplo que quem teve filhos recentemente se lembra bem: quando o bebê se sente em perigo, como diante de um movimento inesperado, ele estica as pernas e abre os braços como se estivesse pedindo um abraço.

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Todos esses reflexos vão desaparecendo ao longo dos primeiros meses. Conforme o córtex cerebral se desenvolve, os movimentos deixam de ser involuntários e o bebê passa a assumir o comando.

Daí em diante, o mais provável é que bater as perninhas na cama seja só uma forma de se divertir. E se os pais gostarem da brincadeira, aí é que o pequeno vai se animar para valer.

Fontes: Paulo Breinis, neuropediatra e coordenador da disciplina de neuropediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

*Com matéria publicada em 17/02/2015

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