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Por que dizemos que os elefantes têm boa memória?

Elefantes conseguem memorizar locais com água e alimento para os tempos de seca - Getty Images
Elefantes conseguem memorizar locais com água e alimento para os tempos de seca Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

01/01/2023 04h00

O elefante é uma espécie de "dosagem popular" para grandes medidas. Quando algo é muito pesado ou enfadonho, dizemos que é "dose para elefante". Quando ficamos muito chateados, dizem que estamos com uma "tromba de elefante". E quando conseguimos lembrar de muitas coisas, dizem que temos "memória de elefante".

Mas esses bichos imensos têm essa memória toda mesmo?

Elefantes são animais gregários, com grupos que podem reunir até 100 indivíduos, sempre liderados por uma fêmea mais velha, a "matriarca".

Elas são duronas e chegam a expulsar os jovens machos que atingem a maioridade sexual e deixam de respeitar a hierarquia.

A matriarca tem muitas responsabilidades. Como, por exemplo, memorizar os locais onde existe água e alimento nos tempos de seca, para garantir a sobrevivência do grupo. Estudos sugerem que essas e outras informações são passadas para os outros membros do grupo por meio de infrassom - ondas sonoras com frequência inferior a 20 hertz, inaudíveis para os seres humanos.

Essa habilidade de memorização espacial foi moldada ao longo de gerações pelas experiências de vida dos indivíduos, que se adaptam às condições ambientais para sobrevivência e perpetuação da espécie. Os elefantes acumulam e retêm conhecimento social e ecológico e podem se lembrar por décadas de aromas e "vozes" de indivíduos de outras rotas migratórias, lugares especiais e habilidades apreendidas.

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Elefantes conseguem se lembrar por décadas de aromas e vozes
Imagem: Getty Images

Inteligência e empatia

Nos anos 1980, uma integrante da ONG ElephantVoices (voltada à preservação destes animais) chamada Joyce Poole estabeleceu uma relação de "amizade" com um jovem elefante macho chamado Vladimir. Ao estacionar o carro, ele vinha até a janela do veículo e permitia que ela tocasse seu tronco e presas.

Eles fizeram isso diversas vezes ao longo de cinco anos. Por uma série de razões, Poole ficou sem ver o animal por 12 anos. Quando o reencontrou, ficou na dúvida se aquele era mesmo Vladimir. Já o elefante não teve dúvidas: foi até o carro e se esfregou para que ela abrisse a janela e o cumprimentasse.

Se a boa memória é algo que as pessoas comumente associam aos elefantes, quem entende desses animais não hesita, também, em destacar sua inteligência. A ONG ElephantVoices reitera que esses mamíferos são capazes de usar e até de fabricar ferramentas - usando as protuberâncias na ponta da tromba de forma parecida com a que os primatas usam o polegar e os dedos para manipular objetos.

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A tromba dos elefantes tem múltiplas funções
Imagem: VCG via Getty Images

A tromba dos elefantes é uma espécie de "fusão" entre nariz e lábio superior e tem múltiplas funções: é usada para transportar alimento, cheirar, levantar e analisar objetos, mas também é utilizada para beber - os elefantes chupam até 14 litros de água por ela de uma só vez, antes de despejar o líquido dentro da boca.

A tromba também ajuda nas interações sociais. Elefantes conhecidos se cumprimentam cruzando as trombas, assim como humanos apertam as mãos. O órgão também pode usado para brincadeiras e carícias entre mães e filhos, ou como demonstração de força. Uma tromba erguida pode ser um sinal de aviso ou ameaça. Uma tromba caída representa submissão.

Estudos do córtex cerebral dos elefantes indicam que os animais possuem uma rede grande e complexa de neurônios. Eles também possuem o hipocampo e os lóbulos temporais bem desenvolvidos, o que é compatível com a boa memória que esses mamíferos demonstram ter.

Os cientistas também já identificaram diversos comportamentos dos elefantes que demonstram empatia, como a tendência a ajudar indivíduos em dificuldade a se alimentar ou se locomover. Há indícios de que os elefantes também sejam capazes de compreender a morte, tanto que realizam uma série de rituais diante do corpo de um membro do grupo, como guardar e cobrir seus restos mortais.

Em um estudo publicado na revista "New Scientist", pesquisadores do Quênia e do Reino Unido descreveram como elefantes ficaram agitados e demonstraram enorme interesse ao se deparar com caveiras de elefantes. O mesmo não acontece quando os ossos encontrados são de outros animais.

Trata-se de um comportamento bem diferente do registrado entre macacos ou leões, por exemplo, que parecem não dar nenhuma importância à morte de companheiros de espécie.

Fontes: Flávia Taconi, bióloga da Fundação Parque Zoológico de São Paulo; Petter Granli, da ONG ElephantVoices.