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Você deixa tudo pra depois? Problema pode ser emocional; veja como evitar

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Imagem: iStock

Paula Moura

Colaboração para o UOL

15/06/2016 06h00

É preciso terminar uma tarefa. De repente, várias "necessidades" urgentes surgem: a publicação de uma foto no Facebook, uma pesquisa na Wikipedia, a organização de um armário. Depois de horas destinadas a qualquer outra coisa que não à tarefa, o sentimento de culpa. Muitos de nós - talvez todos - já nos encontramos nesta situação algum dia. Ainda mais com tanta tecnologia à disposição.

Uma pesquisa dele nos anos 2000 mostrou que 50% das pessoas que estavam online estavam deixando algo para depois. Isso antes dos smartphones e da web 2.0. Hoje, a porcentagem deve ser muito maior, explica Timothy Pychyl, psicólogo que estuda a procrastinação na Universidade de Carleton, no Canadá. 

Diferentemente do que se pode imaginar, o fenômeno não tem explicação simples. "Envolve toda a psicologia: emoções, pensamentos e comportamentos e envolve o que chamamos de vontade.”

Pychyl enfatiza que a procrastinação não é um problema de gerenciamento de tempo nem de força de vontade, mas sim a dificuldade de lidar com as emoções negativas.

É como o dia em que você percebe que não está comendo porque está com fome, mas porque está triste. Quando se evita uma tarefa, é porque há dificuldade em lidar com as emoções relacionadas à tarefa ou não se está deixando essas emoções irem embora.”

Portanto, aprender a lidar com elas é fundamental para que a procrastinação não seja um problema constante.

Além disso, nem todo atraso é uma forma de procrastinação. Essa última sempre envolve uma expectativa de resultado ruim e geralmente leva a esforços de última hora. “Problemas de performance, de saúde, todas as consequências negativas estão relacionadas com a forma de atraso chamada procrastinação. As outras formas de atraso não têm isso.”

Quem procrastina mais?

Pychyl descreve alguns traços de personalidade que levam à procrastinação. Falta de autoconsciência, impulsividade, perfeccionismo social, ansiedade e medo de falhar são alguns deles.

A falta de autoconsciência é a dificuldade em identificar suas próprias emoções e de perceber o espaço à sua volta. Para o acadêmico os sinais podem ser vistos no ambiente: casa bagunçada, escrivaninha bagunçada, nunca sabe onde estão as coisas, não ter uma agenda regular, pessoa que não presta atenção no que está fazendo.

O contrário também pode significar outro desses traços de personalidade: uma casa extremamente organizada pode indicar perfeccionismo social. “Se você constantemente se pega pensando no que os outros estão pensando, provavelmente você é um perfeccionista social porque você está sempre preocupado com o que os outros vão pensar em vez do que você pensa. Esse diálogo interno paralisa.” 

Já ansiedade e preocupação são traços bastante arraigados em nós, mais difíceis de mudar. “Temos que aprender a conviver com eles, reconhecer que é um ponto fraco”, diz Pychyl. “Se você apresenta alguma dessas características, precisa se focar nelas, pois serão uma desvantagem para você”.

Como evitar?

O primeiro passo para evitar a procrastinação é se tornar mais consciente dos sentimentos e pensamentos sem julgá-los, recomenda Pychyl, que vê na meditação uma forma de melhorar essa percepção. 

É ainda importante entender que nem sempre atingiremos nossas expectativas em relação a nós mesmos --e aceitar a limitação. “Se não, teremos o efeito foda-se. Comi um cookie, então vou comer a caixa inteira. Não fiz nada na última hora então não vou fazer nada o dia inteiro”, exemplifica. 

Confira 4 dicas para evitar a procrastinação

Pensar o projeto em partes, tornando o objetivo concreto: se eu pensar por exemplo: "tenho que trabalhar no meu curso hoje, eu tenho essa experiência emocional que diz “Não quero”, fico sobrecarregado. Então eu paro e penso: qual é a próxima ação? Ok, tenho que fazer log in e olhar os capítulos que já escolhi até agora. Bom, isso eu posso fazer."

Encadear as ações: em vez de apenas colocar “meu objetivo hoje é fazer essa tarefa”, dizer depois que eu terminar meu café (ou assim que tal coisa acontecer) eu vou fazer X para conseguir Y. “Para meus alunos, eu digo para fazerem isso para saberem o que vão fazer quando saírem da aula. Se eles não fazem isso, eles vão sair e repetir qualquer hábito que tenham.”

Achar uma forma de apenas começar. Se falar só “vamos fazer”, o “fazer” já causa desespero. Não importa de onde, pense que vai apenas começar. Quando iniciamos algo, esse pequeno progresso nos preenche e isso traz motivação.

Fazer pausas é importante. Somos seres físicos, portanto comer algo ou tirar uma soneca pode ajudar a enfrentar a tarefa de novo. Hábitos saudáveis de alimentação, sono e exercícios são muito importantes para evitar a procrastinação, observa Pychyl. 

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