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Os neandertais comiam pratos 'gourmet' e usavam 'aspirina'

Estudo mostrou que neandertais comiam rinoceronte com cogumelos e tomavam aspirina ao analisar suas placas dentárias - Paleoanthropology Group MNCN-CSIC
Estudo mostrou que neandertais comiam rinoceronte com cogumelos e tomavam aspirina ao analisar suas placas dentárias Imagem: Paleoanthropology Group MNCN-CSIC

Do UOL, em São Paulo

08/03/2017 18h43

Nossos “primos” do passado são mais chiques do que você imaginava. Os neandertais belgas jantavam rinocerontes-lanudos com cogumelos e tomam analgésicos e antibióticos naturais, de acordo com a análise do material genético preso em um fóssil de dentes de neandertais.

Os neandertais não estavam comendo só pelas calorias, mas aproveitavam as propriedades medicinais das plantas e alimentos bacterianos.

Amanda Henry, paleoantropóloga da Universidade de Leiden, na Holanda.

O estudo, publicado na Nature, foi possível devido à formação das placas dentárias. À medida que as placas se formam, elas prendem pequenos pedaços de comida e, como os neandertais não usavam de fio dental, os cientistas conseguiram descobrir sua dieta só com os restos de comida que ficaram presos ali.

A paleomicrobióloga Laura Weyrich, da Universidade de Adelaide, na Austrália, usou os fósseis de dentes e mandíbulas de neandertais encontrados na caverna Spy, na Bélgica, na caverna El Sidrón, na Espanha, e em uma caverna italiana conhecida como Breuil Grotta.

Os fósseis da caverna Spy, de neandertais que viveram há cerca de 36 mil anos, incluíam DNAs semelhantes ao de um rinoceronte moderno e ovelhas. Também apareceram indícios de cogumelos cinzentos, Coprinopsis cinerea.

Já nos fósseis da caverna El Sidrón a análise de DNA revelou vestígios de álamo (que contém o analgésico natural ácido salicílico, o ingrediente ativo da aspirina) e do fungo Penicillium (produzido por antibióticos e encontrado na vegetação mofada). Possivelmente, os neandertais usavam os produtos como remédio contra dor de dente, segundo os pesquisadores.

Em contraste, os dois fósseis analisados em El Sidrón – datados de cerca de 48 mil anos atrás – não tinham DNA de grandes animais. Em vez disso, tinham sequências genéticas relativas as de pinhões, musgo da floresta e cogumelos.

De acordo com os cientistas, a diferença entre os vegetarianos e carnívoros aconteceu devido à região que habitaram. Ao redor de El Sidrón a área era florestada, na época, enquanto na Bélgica, em Spy, era um estepe sem árvores.

Além das novidades, em 2012, os cientistas relataram uma análise química da placa dentária de cinco neandertais descobertos em El Sidrón que tinham evidências de compostos de sabor como os da camomila, planta que não tem valor nutritivo, mas que também era usada com valor medicinal.

“Este artigo é muito interessante. É sempre bom ter novas técnicas analíticas que complementam as outras já em uso, porque cada uma delas tem suas limitações”, afirmou Hervé Bocherens, paleobiologista da Universidade de Tubingen, na Alemanha. Por exemplo, cogumelos muitas vezes não são preservados em registro arqueológicos.