Topo

Nova análise pretende revolucionar o que sabemos sobre os dinossauros

Tiranossauro rex seria mais parente dos quadrúpedes com chifres do que dos pescoçudos, segundo novo estudo - AP
Tiranossauro rex seria mais parente dos quadrúpedes com chifres do que dos pescoçudos, segundo novo estudo Imagem: AP

Paula Moura

Do UOL, em São Paulo

22/03/2017 15h00

Estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (22) pretende revolucionar o que se sabe sobre a divisão das famílias e os parentescos entre os dinossauros.

Matthew Baron e seus colegas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisaram 457 características anatômicas de 74 espécies observando diferenças e similaridade de esqueletos, tamanhos e proporções de ossos e dentes, etc.

Eles chegaram à conclusão de que a família dos terápodes (bípedes carnívoros) não seria um grupo dentro da família dos saurísquios, como está classificada atualmente, mas sim um grupo independente. Além disso, os terápodes seriam mais próximos dos ornitísquios (herbívoros) do que dos saurísquios (quadrúpedes pescoçudos).

Ou seja, atualmente, considera-se que tiranossauros rex e velociraptors são mais parentes dos quadrúpedes pescoçudos. O novo estudo diz que, em vez disso, eles são primos mais próximos dos quadrúpedes chifrudos e dos bicos-de -pato.

“O que esse pessoal está fazendo é uma completa revolução. Se for confirmada, mudará não só todos livros técnicos como todos os livros infantis. Classicamente os dinossauros são divididos em dois grandes grupos. Isso é assim há mais de 150 anos”, diz Max Langer, pesquisador dos dinossauros brasileiros e professor da USP (Universidade de São Paulo).

“O que eles propõem é que os saurísquios na verdade não existem como um grupo ‘natural’", diz Langer.  Atualmente, os saurísquios são compostos por dois outros grupos, os terópodes (bípedes carnívoros como t-rex e velociraptor) e os sauropodomorfos (quadrúpedes pescoçudos).

E como fizeram isso?

Essa nova classificação tem por base em 21 características de ornitísquios e terápodes herdadas de um antepassado comum, como cristas afiadas nos maxilares. “Nada muda em relação à anatomia deles, é apenas em relação ao parentesco”, explica Juan Carlos Cisneros, professor da Universidade Federal do Piauí. “Eles usaram uma grande amostragem, com dinossauros da África do Sul, da China, da Argentina etc.”

Para Cisneros, o estudo destaca a importância de quatro dinossauros brasileiros na base da árvore (ou seja, estão entre os mais antigos): o estaurikossauro, o pampadromeus, o guaibassauro e o saturnalia.

O Brasil tem um papel importante para ajudar a esclarecer a origem dos dinossauros devido ao potencial dos sítios paleontológicos na região sul, onde foram encontradas várias das espécies mais antigas do mundo."

Necessidade de confirmação

Os dois especialistas lembram que a hipótese precisará ser confirmada por estudos posteriores. Pesquisas como essa são feitas há mais de 30 anos e nenhuma delas encontrou esses resultados, explica Langer. 

Langer também aponta falhas no estudo. “Mais da metade dos fósseis não foi analisada diretamente. Não sentaram com o fóssil diante deles analisando as características anatômicas. Eles se basearam em artigos científicos. É uma falha grave”, diz.

Dinossauro brasileiro - Rodolfo Nogueira - Rodolfo Nogueira
O dinossauro brasileiro Pampadromaeus barberenai
Imagem: Rodolfo Nogueira

Nada muda com dinossauros brasileiros

Pode-se dizer que, entre dinossauros mais antigos do mundo, metade está no sul do Brasil (Rio Grande do Sul) e outra metade está no noroeste da Argentina. Nesse rearranjo, os bichos brasileiros são posicionados mais ou menos como sempre foram, dentro da família dos saurísquios.

O modelo também aponta novidades em relação à evolução dos dinossauros. Por exemplo, sugere que os primeiros dinossauros eram onívoros, pequenos, andavam sobre dois pés e tinham mãos capazes de pegar -- isto é, se alimentavam em posição bípede puxando folhas com as mãos.

A análise sugere que os dinossauros tiveram origem no hemisfério Norte em vez de Gondwana. Os autores avaliam que o período em que viveram e a disposição geográfica dos dinossauros também podem necessitar de uma revisão.

"Essa última hipótese é um tanto controversa, pois os dinossauros mais primitivos do mundo são brasileiros e argentinos", avalia Cisneros. "Teremos que aguardar se ela é corroborada ou não por futuras pesquisas. Mas valorizo que os autores estejam questionando os modelos "clássicos", é importante estarmos sempre abertos a novas explicações."