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Bebê reconhece mesmo o som que ouviu na barriga? Eis o que a ciência sabe

Cientistas desconfiam que os bebês não só ouvem, mas sentem as vibrações da barriga - Getty Images/iStockphoto
Cientistas desconfiam que os bebês não só ouvem, mas sentem as vibrações da barriga Imagem: Getty Images/iStockphoto

De Tilt, em São Paulo

21/11/2021 11h21

Diversas pesquisas já mostraram que o feto é capaz de ouvir sons e responder a eles enquanto está no útero da mãe, mas será que ele é mesmo mais propenso a reagir ao som materno do que aos outros. Ele pode distinguir a voz?

A audição humana funciona assim: a vibração, ou ondas sonoras, chega ao tímpano, dentro do sistema auditivo as células o transformam em estímulos elétricos que são levados até o cérebro e decodificados.

Um feto começa a ouvir entre a 20º e 24ª semana de gestação, quando os neurônios vão formando o córtex auditivo, a região responsável por processar o som. A partir desse momento os bebês podem ouvir os órgãos internos da mãe, assim como sua fala.

"O som é uma vibração emitida como corrente elétrica e interpretada pelo cérebro. Se você estive embaixo d'água, vai ouvir o trovão, mas não vai escutar o som do jeito que ele é, porque o som fica melhor [transmitido] pelo ar", explica o neuropediatra Paulo Breinis, do Hospital São Luiz Jabaquara.

Ou seja, não dá para saber o som exato do que os bebês escutam —provavelmente são estímulos sonoros externos bem mais abafados.

"O bebê escuta pela vibração do líquido amniótico, pela movimentação dele no útero e pelos batimentos cardíacos, mas será que ele escuta só pelo ouvido? Será que a reação que ele tem não vem da vibração pela pele? Essas questões ainda não sabemos", diz o neuropediatra Luiz Celso Vilanova, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Voz da mãe

O que uma pesquisa publicada pela PNAS em 2015 mostrou é que os primeiros sons da mãe fornecem aos recém-nascidos a aptidão auditiva necessária para moldar o cérebro para a audição e desenvolvimento da linguagem.

Os pesquisadores selecionaram 40 bebês prematuros e pediram às mães de metade das crianças para cantar duas canções em um estúdio e gravaram seus batimentos cardíacos por meio de um estetoscópio conectado a um microfone. Então, removeram os tons de frequência mais alta das gravações e reproduziram o som para metade dos bebês que estavam em incubadoras. As outras crianças receberam cuidados comuns.

Após 30 dias, os pesquisadores compararam as imagens de ultrassom dos cérebros e perceberam que os bebês expostos às vozes de suas mães tinham córtices auditivos significativamente mais espessos do que os outros.

Acredito que a criança reconheça a voz da mãe após o nascimento, por ser formada ali dentro. Esse é o som mais próximo que a acompanha desde o início da vida. Mas, no momento, não é possível quantificar isso.
Paulo Breinis,
neuropediatra

Por outro lado, falar com o bebê não parece ser a única forma de interação. Um estudo publicado na revista científica Plos em 2015 mostrou que o feto reagia mais ao toque do que à voz da mãe. Os cientistas perceberam, por ultrassonografias, que os bebês ficavam mais ativos quando as mães acariciavam a barriga, na comparação com ler em voz alta ou apenas deixar as mãos próximas do ventre.

Memória

Desde o final da década de 1980, diversas pesquisas sugerem que os fetos podem aprender dentro do útero. Em 2013, uma pesquisa publicada na PNAS que buscava traços neurais de memórias do útero mostrou que bebês poderiam reconhecer palavras após o nascimento.

As gestantes foram submetidas a uma gravação tocada várias vezes por semanas durante os últimos meses da gravidez. O material incluía uma palavra inventada, repetida muitas vezes e intercalada com a música. Quando os bebês nasceram, os cérebros eram capazes de reconhecer a palavra.

Para os cientistas, isso demonstra que o som repetido cria uma memória que pode ser detectada nas ondas cerebrais.

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