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Por que falamos "você" em vez de "eu" ao relatar experiências negativas?

Getty Images
Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

06/04/2017 04h00

“Às vezes você ganha, às vezes você perde". Expressão como essa é muito usada pelas pessoas ao descreverem experiências negativas pelas quais passaram. “Quando você está com raiva, você diz e faz coisas das quais provavelmente vai se arrepender.” Afinal, por que não usamos o pronome “eu” para falar sobre coisas ruins?

Para um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nós fazemos isso para lidar de uma forma melhor com nossas experiências. Utilizando “você” em vez de “eu”, acabamos compartilhando o fato ocorrido conosco. Isso ocorre com mais frequência quando tentamos encontrar significados para as experiências negativas. Uma forma mais genérica de descrever a ação é ótima para expressar normas e regras que podem ter validade para todas as pessoas. 

"É algo que todos nós fazemos como uma maneira de explicar como as coisas funcionam e para encontrar significado em nossas vidas", diz Ariana Orvell, pesquisadora do departamento de psicologia e autora principal do estudo. 

Isso nos permite ‘normalizar’ a experiência e refletir sobre ela com maior distância."

Poderia acontecer com qualquer um

Os especialistas realizaram nove experimentos com 2.489 pessoas para entender por que as pessoas usam o pronome "você" não apenas para se referir ao outro, mas também para refletir sobre suas próprias experiências.

Em um dos testes, os participantes tinham de escrever sobre uma experiência pessoal, sendo que um grupo lembraria um evento negativo, outro falaria do sentido que deram a um evento negativo, e um terceiro apenas relataria uma experiência neutra.

Os participantes que viam um sentido no evento negativo eram os que mais usavam pronomes genéricos ao descrever a experiência. Os que foram convidados apenas a se lembrar do evento negativo usavam bem menos o “você”. Os que tinham que relatar um evento neutro eram os que menos usavam pronome genérico. 

"Nós suspeitamos que a capacidade de ir além de sua própria perspectiva e expressar experiências compartilhadas de forma universal permite aos indivíduos derivar significados mais amplos de eventos pessoais", diz Orvell. 

Para a pesquisadora, ao usar o “você” no lugar do pronome eu, as pessoas mostram que são capazes de comunicar que os eventos negativos pelas quais passaram poderiam acontecer com qualquer um.