Edição genética em DNA de ratos indica caminho para cura do HIV
Um estudo conduzido por cientistas da Universidade Temple, da Filadélfia, e da Universidade de Pittsburgh, ambas nos Estados Unidos, dá passos em direção a uma possível cura permanente para a infecção causada pelo vírus HIV. Publicada no jornal Molecular Therapy na segunda-feira (1º), a pesquisa mostrou ser possível a remoção de parte do genoma do HIV de células de ratos vivos, eliminando a reprodução de células.
De acordo com o estudo, a replicação do HIV-1 (retrovírus humano tipo 1) pode ser desligada por meio de uma tecnologia de edição genética chamada de CRISPR/Cas9.
A pesquisa aponta uma "cura funcional" da doença em camundongos, ou seja, o fim da reprodução do vírus dentro do corpo dos animais, segundo Ricardo Diaz, consultor do Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Experimento com ratos
O estudo foi feito com três diferentes modelos de animais, incluindo um modelo em que células imunitárias humanas foram transplantadas em ratos, sendo posteriormente infectadas com o vírus.
Em um estudo anterior, os cientistas haviam utilizado ratos com DNA de HIV-1 incorporados no genoma de todos os tecidos do corpo do animal. O experimento mostrou que eles poderiam apagar alguns fragmentos do HIV-1 na maioria dos tecidos dos animais cobaias.
Agora, a equipe conseguiu inativar geneticamente o HIV-1 em camundongos, reduzindo a expressão de RNAs com genes virais em até 95%. O sistema também foi testado em ratos infectados com EcoHIV, o equivalente do HIV-1 humano em ratos --com o Crispr tiveram 96% de eficiência para bloquear a replicação viral e potencialmente prevenir a infecção sistêmica.
"Cura funcional"
Para Diaz, é possível no futuro que com a técnica de edição genética "seja retirado o vírus inteiro do DNA". Ele afirma que neste estudo específico, isso não ocorreu, mas foi possível extrair até 95% do vírus em alguns casos.
"Quando isso ocorre, quando ele fica 'aleijado', ele não pode se reproduzir. É alcançada, então, a chamada 'cura funcional'".
Para Diaz, o fato de o experimento possibilitar que seja feita apenas uma "intervenção" e acabe com a reprodução das células infectadas é algo significativo, já que o tratamento com os coquetéis anti-retrovirais traz, muitas vezes, efeitos colaterais e deve ser feito regularmente.
Quão longe estamos da cura?
O próximo passo será repetir o estudo em primatas, "um modelo mais adequado, onde a infecção pelo HIV induz a doença", disse Kamel Khalili, da Universidade Temple. Só depois de sucesso nesta fase, é que a técnica poderá ser testada em humanos.
"É um artigo com uma ideia muito interessante, no entanto, pelo menos por esta técnica, e baseado neste artigo, estamos muito longe de estar falando da cura da Aids", considera Alexander Birbrair, pesquisador da UFMG.
O uso da técnica de edição de genes é uma das apostas para o futuro do tratamento do vírus. Nos últimos três anos, dezenas de estudos têm explorado essa possibilidade. Contudo, um artigo publicado na revista Cell Reports em abril indica que o HIV seria capaz de se readaptar após o uso do Crispr e voltar a se reproduzir.
O vírus HIV é conhecido por ser capaz de resistir a diferentes formas de tratamentos com drogas antivirais.
O especialista em sexualidade Jairo Bouer frisa que "uma coisa é os estudos laboratoriais, outra é a viabilidade clínica, de fato". Para ele, ainda há muito caminho a percorrer na almejada cura da Aids.
Para Bouer, caso se mostre possível que a técnica seja replicada em humanos, objetivo final do estudo, será mais uma medida "complementar" às tentativas de busca pela cura da doença.
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