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Clique Ciência: O que acontece com o corpo de quem for para Marte?

Matt Damon ficou um tempo no planeta vermelho no filme de Ridley Scott "Perdido em Marte" - Divulgação
Matt Damon ficou um tempo no planeta vermelho no filme de Ridley Scott "Perdido em Marte" Imagem: Divulgação

Cintia Baio

Colaboração para o UOL

13/06/2017 04h00

“Vai para Cuba”, “vai para Miami” e, agora, “vai para Marte!”. Ultimamente, tem muita gente desejando fugir para vários lugares. Mas, vai por mim, talvez escolher o planeta vermelho não seja a melhor decisão —pelo menos até os cientistas concluírem que tipos de mudanças realmente podem acontecer no organismo de quem for morar por lá.

Além de determinar como os astronautas sobreviverão em um lugar com atmosfera, solo e clima diferente da Terra, os pesquisadores querem simular como o corpo humano deve reagir durante a viagem para chegar até Marte, que deve durar entre 6 e 8 meses.

A Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) têm feito inúmeros estudos sobre os impactos de se passar muito tempo no espaço. Em um deles, a agência enviou o astronauta americano Scott Kelly para passar um ano vivendo na Estação Espacial Internacional. Enquanto isso, seu irmão gêmeo Mark ficou na Terra. Após a volta de Scott, em março de 2016, os cientistas passaram a pesquisar as mudanças que ocorreram no corpo do astronauta em comparação ao organismo do irmão que ficou na Terra.

Os resultados ainda estão começando a ser estudados mas, aliados a outras pesquisas, já é possível ter noção dos desafios:

Scott Kelly passou um ano no espaço para estudar como nosso corpo fica sem gravidade - @Stationcdrkelly/Nasa - @Stationcdrkelly/Nasa
Scott Kelly passou um ano no espaço para estudar como nosso corpo fica sem gravidade
Imagem: @Stationcdrkelly/Nasa

Campo de gravidade

Os astronautas enfrentarão três tipos de campos de gravidade durante uma missão em Marte. Os primeiros seis meses de viagem entre os planetas será de gravidade zero.

Na superfície marciana, a gravidade será de, aproximadamente, um terço da experimentada na Terra. Depois, terão que se adaptar por aqui novamente.

Essa transição afeta a orientação espacial, coordenação motora e visual e compromete a estrutura óssea e muscular. Sem gravidade, o corpo não precisa de tanto esforço para funcionar. O coração começa a funcionar mais lentamente e os ossos perdem minerais a uma velocidade muito maior do que na Terra --1% por mês no espaço versus 1% por ano na Terra.

Além disso, pela falta de gravidade, os fluidos corporais tendem a ser “empurrados” para a cabeça. Com a pressão maior, problemas de visão podem ser comuns. A desidratação e a concentração alterada de cálcio também podem elevar o risco de pedras nos rins.

Quanto tempo é possível sobreviver em outros planetas?

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Confinamento e isolamento

Embora as pressões psicológicas, a distância de casa e o trabalho estressante sejam considerados os grandes vilões na alteração de comportamento dos astronautas, pesquisas também indicam que algumas habilidades, como atenção, coordenação física e capacidade de resolver problemas, ficam comprometidas no espaço por questões diretamente ligadas ao comportamento do cérebro no espaço.

Para o especialista em psicologia e neurociência Vaughan Bell, da University College London e colunista do jornal inglês "The Guardian", uma das possibilidades para essa lentidão é que nosso suprimento de sangue evoluiu para funcionar na gravidade sofrida na Terra. Assim, em uma viagem espacial, com gravidade zero, a eficiência com que o oxigênio é fornecido para o cérebro é afetada.

Pesquisa feita pelo Laboratório de Neuropsicologia e Biomecânica do Movimento, da Universidade Livre de Bruxelas observou algo parecido:  o cérebro parece trabalhar diferente quando está em órbita. A queda da capacidade mental dos astronautas não é grave, mas existe, segundo os dados.

astronauta - Nasa - Nasa
Imagem: Nasa

Risco maior de doenças

De acordo com a Nasa, micróbios podem mudar suas características no espaço e micro-organismos que naturalmente vivem em seu corpo são mais facilmente transferidos de pessoa para pessoa em ambientes fechados como as estações espaciais.

Com os níveis hormonais elevados por conta do estresse, a imunidade dos astronautas cai e há uma maior propensão a alergias e outras doenças.

Marte é um planeta de condições extremas, as temperaturas vão de -80°C a 20°C - Nasa - Nasa
Marte é um planeta de condições extremas, as temperaturas vão de -80°C a 20°C
Imagem: Nasa

Radiação espacial

Um dos aspectos mais perigosos de viajar a Marte é a radiação espacial. Só dentro das estações espaciais, os astronautas são expostos a dez vezes mais radiação do que na Terra, já que por aqui, o campo magnético e a atmosfera nos protegem.

A exposição à radiação pode aumentar o risco de câncer, danificar o sistema nervoso central, causar náuseas, vômito e fadiga. Além do mais, pode causar doenças degenerativas, como catarata, problemas cardíacos e circulatórios.