Topo

O que acontecerá com o iceberg de 1 trilhão de toneladas que se desprendeu?

Do UOL, em São Paulo

12/07/2017 12h58

Em algum momento entre segunda-feira (10) e quarta-feira (12), um bloco de gelo de 6 mil km² terminou um longo processo de quebra e se desprendeu do continente antártico. A fenda vinha sendo acompanha atentamente por cientistas, ao menos, desde 2010.

O novo iceberg, com cerca de 1 trilhão de toneladas e o tamanho do Distrito Federal, é um dos dez maiores já registrados por um satélite e deve ser chamado de A68, segundo informações do projeto britânico Midas, que acompanha esta região da Antártida.

De acordo com os pesquisadores ingleses, o gigante de gelo já estava flutuando antes de se desprender completamente, o que significa que sua separação do continente não terá impacto imediato no nível do oceano ou na biodiversidade da região. 

Rupturas de icebergs na Antártida fazem parte de um ciclo natural. O gelo constantemente avança sobre o oceano. Como resultado, a plataforma de gelo cresce em média 700 metros por ano. Em algum momento, uma parte dela se separa, reiniciando o ciclo.

Por isso, cientistas afirmam que a formação deste novo iceberg não está necessariamente ligada às alterações climáticas. 

O enorme bloco deve se afastar gradualmente da plataforma de gelo. O mais provável é que o iceberg A68 se rompa em segmentos menores ao longo do tempo, explica Adrian Luckman, do Projeto Midas.

Segundo ele, parte do gelo "poderia permanecer na zona durante décadas", enquanto outras "partes do iceberg poderiam seguir para o norte em direção a águas mais quentes" derretendo-se.

Cientistas estão preocupados com o que sobrou

O iceberg era parte de uma gigantesca barreira de gelo, "Larsen C", que retém geleiras capazes de elevar em 10 cm o nível dos oceanos caso acabem no Oceano Antártico, segundo os pesquisadores da Universidade de Swansea. A quebra reduziu em 12% a área dessa plataforma.

Privado deste enorme bloco de gelo, Larsen C é "potencialmente menos estável", ressaltam os pesquisadores. Assim, Larsen C poderia entrar em colapso e se desintegrar.

Ao norte, duas plataformas menores já passaram por esse processo. A Larsen A desapareceu em 1995. Sete anos depois, a Larsen B entrou em colapso. 

Os cientistas irão agora monitorar a Larsen C para ver se ela voltará a crescer, seguindo seu ciclo natural, ou se derrete ainda mais. 

Imagens do satélite insar Sentinel1 mostram que há ainda outras fraturas em desenvolvimento, além das que levaram à separação do Iceberg.

Em 2002, a geleira Larsen B entrou em colapso e se desintegrou em diversos pedaços de gelo - Mariano Caravaca/Reuters - Mariano Caravaca/Reuters
Em 2002, a geleira Larsen B entrou em colapso e se desintegrou em diversos pedaços de gelo
Imagem: Mariano Caravaca/Reuters

Colapso poderia aumentar nível do mar no mundo

Ao contrário dos icebergs que se desprendem da plataforma de gelo, a camada de gelo atrás dela está sobre a terra. Se esse gelo derreter, ele acrescentará água adicional ao mar, levando a um aumento nos níveis oceânicos.

Os cientistas estão preocupados que o colapso das plataformas de gelo, assim como das camadas de gelo sobre a terra, possa desestabilizar as geleiras na Antártida Ocidental.

A camada de gelo sobre a terra da Antártida Ocidental contém água congelada suficiente para aumentar o nível do mar em cerca de 6 metros caso derreta.

Imagem aérea feita em fevereiro de 2017 mostra a plataforma Larsen C e a fenda que provocou a criação do novo iceberg - British Antarctic Survey via AP - British Antarctic Survey via AP
Imagem aérea feita em fevereiro de 2017 mostra a plataforma Larsen C e a fenda que provocou a criação do novo iceberg
Imagem: British Antarctic Survey via AP

Icebergs maiores à deriva na história

O novo iceberg não é páreo para outros que já se desprenderam do continente gelado. Em 2000, por exemplo, o iceberg B-15, de 11 mil quilômetros quadrados, descolou-se da plataforma de gelo Ross.

A própria plataforma de gelo Larsen C já deu origem a icebergs maiores, como um de 9 mil quilômetros quadrados em 1986.

* Com agências internacionais