Topo

Estudo descobre como transformar urina em comida e plástico para astronauta

American Chemical Society
Imagem: American Chemical Society

Do UOL, em São Paulo

22/08/2017 21h10

Para viabilizar as viagens espaciais mais longas --com destino a Marte, por exemplo--, pesquisadores criaram a fórmula para transformar a urina dos próprios astronautas em uma variedade de materiais e nutrientes que possam ser cruciais para a caminhada espacial.

A pesquisa --apresentada no 254º Encontro Nacional da Sociedade Americana e Química (ACS, na sigla em inglês), nesta terça-feira (22)-- é mais uma tentativa da Nasa contra o "desperdício". A agência espacial norte-americana, por exemplo, já tem reciclado a urina para fornecer água potável aos astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional.

Como explica o novo estudo, os astronautas não podem levar muitas peças sobressalentes para o espaço porque cada peso extra a bordo aumenta o custo do combustível necessário para escapar da gravidade da Terra. "Se os astronautas vão fazer viagens que durem vários anos, precisaremos encontrar uma maneira de reutilizar e reciclar tudo o que eles levam", diz Mark A. Blenner, biólogo sintético da Universidade Clemson, na Carolina do Sul (EUA), que lidera a pesquisa financiada pela Nasa.

Em viagens mais longas, como ressalta Blenner, a economia de átomos se torna "realmente importante". Portanto, segundo ele, os astronautas precisarão ser capazes de produzir nutrientes e materiais para essa jornada. "Eles simplesmente não têm o espaço para transportar todas as necessidades possíveis, sem contar que certos nutrientes, medicamentos e materiais podem se degradar ao longo de mais de três anos", destaca o pesquisador.

A solução proposta pelo biólogo está em partes nas mãos dos próprios astronautas. Isso porque o estudo encontrou a fórmula para a conversão da urina humana em produtos como poliésteres e nutrientes. O segredo está no uso dessas moléculas para alimentar várias linhagens da Yarrowia lipolytica --uma levedura comumente encontrada no queijo, fonte de açúcares, lipídios e outros nutrientes.

Algas que, de acordo com a pesquisa, precisam de nitrogênio e carbono para crescerem. Onde buscar esses ingredientes no espaço? A resposta foi encontrada na ureia da urina e no gás carbônico eliminado pelos astronautas na respiração. 

Como já comprovado por estudos científicos anteriores, a Yarrowia lipolytica pode ser geneticamente modificada para produzir todo tipo de substâncias, incluindo ômega-3 [nutriente essencial para a saúde do corpo humano], até mesmo plásticos, como poliésteres.

Com a Estação Espacial Internacional já possui uma impressora 3D, a ideia é a alga geneticamente modificada possa vir a ser usada para produzir plásticos e, consequente, se tornar a matéria-prima para imprimir todo o tipo de item, desde pequenos componentes até ferramentas mais complexas. "As capacidades em biologia sintética nos permitem criar diferentes linhagens de fermento que podem fazer uma grande variedade de produtos", afirma Blenner.

O estudo, financiado pela Nasa, ainda está na fase inicial. "Já conseguimos provar ser possível plásticos de poliéster, mas esse trabalho ainda é preliminar. Ainda não estamos produzindo quantidades suficientes para uma aplicação prática", afirma ele.

Segundo o pesquisador, há ainda muito o que não se sabe sobre como o fermento se comporta na microgravidade, em uma atmosfera de pressão mais baixa ou em níveis mais altos de radiação.