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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Empatia e compaixão nem sempre são bons sentimentos; descubra qual o limite

PeopleImages/iStock
Imagem: PeopleImages/iStock

Gabriel Dias

Colaboração para VivaBem*

01/01/2023 04h00

Empatia é essencial para as relações humanas. Sem conseguir se colocar no lugar do outro, qualquer interação social seria mais difícil. Mas estudos mostram que quem tem uma percepção muito aguçada das emoções alheias corre o risco de ficar mais estressado.

Por outro lado, compaixão costuma ter um efeito positivo. Quando vemos imagens de vítimas de guerra ou de crianças famintas na TV, são os sentimentos de empatia e compaixão —ou a falta deles— que determinam se choramos ou sofremos, se queremos ajudar ou se desviamos o olhar.

Apesar da proximidade entre ambos os sentimentos, há diferenças entre eles. A empatia e a compaixão são apoiadas por diferentes sistemas biológicos e estruturas cerebrais.

A compaixão —sentimento de pesar, associado ao desejo de confortar o outro— gera um efeito positivo, nos fazendo reduzir o sofrimento alheio.

Já no caso da empatia —ou seja, a capacidade de compreensão emocional e de sentir o que o outro sente—, pesquisas mostram que é ativada a rede neural no cérebro que representa nossas próprias experiências dolorosas.

O problema é que a fronteira entre a própria dor e o sofrimento alheio se desfaz rapidamente.

A aflição ao ver o sofrimento de outras pessoas pode, portanto, se tornar demasiada e transformar-se em "estresse empático". É aí que desligamos a TV para não ver mais as imagens ruins, por exemplo. A empatia pode levar ao esgotamento.

O estresse empático surge, principalmente, diante do sofrimento de grandes grupos de pessoas. Um estudo da Escola de Administração de Frankfurt encontrou o lado negativo de se importar excessivamente com a dor do outro.

O estudo

Os pesquisadores reuniram 166 universitários homens. Primeiro, mediram a inteligência emocional, pedindo que eles reconhecessem emoções —de alegria a nojo— em fotografias de pessoas que nunca tinham visto antes.

Na fase 2 do estudo, cada rapaz era convidado a dar uma palestra profissional em frente a um painel de juízes (que foram instruídos a olhar para eles com um aspecto bem severo). Antes e depois do sufoco, os cientistas mediram a concentração de cortisol —o hormônio do estresse— na saliva de cada participante.

O que os pesquisadores descobriram é que quem era mais emocionalmente perceptivo —ou seja, conseguia perceber as emoções alheias com mais precisão— também apresentou níveis mais altos de cortisol na saliva depois da palestra. O hormônio aumentava mais durante a apresentação e demorava mais tempo para voltar ao normal, deixando o corpo deles em "estado de alerta" por longos períodos.

Como o estudo tinha uma amostra limitada, é difícil afirmar que essa reação é de fato universal. Mesmo assim, os resultados dão indícios de que essa "conexão" com a emoção alheia nos torna mais sensíveis a elas. O risco da empatia em excesso, nesse caso, é que de alguma forma nos sentimos responsáveis pelo que os outros sentem —o que pode ser especialmente difícil ao palestrar para desconhecidos mal-encarados.

Oxitocina tem papel importante na gentileza

O hormônio oxitocina —conhecido como "hormônio do amor"— tem papel decisivo na compaixão. A influência social positiva do hormônio foi demonstrada em experimentos com duas subespécies de ratos.

Enquanto membros da espécie Microtus ochrogaster possuem um cérebro equipado com muitos receptores de oxitocina e mantêm relações duradouras e monogâmicas, membros da espécie Alticola barakshin são considerados solitários que mudam constantemente de parceiros. Nesses últimos, os receptores de oxitocina são menos numerosos.

Pesquisadores verificaram que se interrompem a atividade de oxitocina dos amáveis Microtus ochrogaster, eles se tornam tão insensíveis quanto seus parentes da outra espécie. Há muitas evidências de que a oxitocina possui, basicamente, um efeito semelhante no comportamento social de humanos. Sob a influência do hormônio, nota-se um aumento da generosidade.

A compaixão e a subsequente emissão de oxitocina reduzem o cortisol e, assim, o estresse.

Ao mesmo tempo, o sofrimento de um ser humano pode gerar uma reação de estresse na qual o cortisol é secretado. O hormônio nos coloca, então, em ação e nos deixa prontos a ajudar. Portanto, um nível baixo de cortisol pode, assim como a falta de oxitocina, gerar frieza.

*Com informações da reportagem publicada em 31/10/2017.