Topo

Por que sentimos cócegas? E o que explica alguns serem mais sensíveis?

Getty Images
Imagem: Getty Images

Aretha Yarak

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/11/2017 04h00

O toque é algo bastante poderoso nas sensações humanas. E toda vez que alguém faz cócegas em você, é difícil evitar as risadas desconfortáveis e um reflexo quase imediato para tentar deter a pessoa. Embora muito já se tenha estudado sobre o assunto, as cócegas ainda são um pequeno mistério para a ciência.

A sensação de cócegas é um fenômeno complexo, que envolve uma variedade de elementos neurológicos e sensoriais.

Seu significado evolutivo, no entanto, permanece sem uma resposta definitiva. Enquanto uma parcela dos cientistas acredita que elas fazem parte do nosso sistema de defesa, nos protegendo contra pequenos animais que tocam nossa pele, como aranhas e mosquitos, outros acreditam que ela tem um relevante papel social.

Leia também

Um importante argumento para a tese da autodefesa é o de que sentimos vontade de rir apenas quando sabemos que é um outro ser humano fazendo cócegas na gente. Se fosse um animal, dificilmente sentiríamos vontade de rir.

Cocegas 2 - Thinkstock - Thinkstock
Imagem: Thinkstock

E por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmo? Isso acontece porque o cerebelo, o centro de controle motor cerebral, já sabe o movimento que você irá fazer e qual será a sensação na pele antes mesmo de você se tocar. O cérebro fica de sobreaviso e bloqueia essa sensação de medo infundada.

Para o neurocientista americano Robert R. Provine, autor do livro Laughter: A Scientific Investigation (Risada: uma investigação científica, em tradução livre), as cócegas fazem parte de um mecanismo social de criação de vínculos entre companheiros e que ajuda a fortalecer as relações familiares e entre amigos. “Ela é uma das primeiras formas de comunicação entre bebês e seus cuidadores”, conta.

Em 1984, o psiquiatra norte-americano Donald Black, da Universidade de Iowa, apontou para um fato interessante sobre esse mecanismo de aprendizagem. Segundo o pesquisador, as regiões mais sensíveis às cócegas (pescoço e costelas) são também as mais vulneráveis em um combate. Na opinião de Black, as crianças estariam aprendendo como defender essas áreas de um jeito bastante seguro durante as brincadeiras com cócegas.

Por que algumas pessoas sentem mais cócegas do que outras?

Porque existe uma variedade de níveis de sensibilidade entre as pessoas. Isso significa que o mesmo estímulo pode causar uma sensação leve, mediana ou moderada, a depender de como o sistema nervoso de cada um processa essa informação.

Em linhas gerais, funciona assim: as terminações nervosas presentes na epiderme (camada mais superficial da pele) captam a o estímulo do ambiente. Em seguida, essa informação é transmitida em forma de estímulo elétrico até chegar no cérebro, onde será processada.

Existem algumas variações genéticas que fazem com que um neurônio dispare mais ou menos informações, e isso reflete na sensibilidade da pessoa.”

Essas diferenças estão relacionadas a um mecanismo que envolve abertura de canais de sódio e potássio, importantíssimos para a transmissão do impulso nervoso. “Quanto mais canais abertos, mais impulso vai passar e maior será a sensação”, explica o neurologista.

Os níveis de sensações costumam ser elencados em limiares, geralmente em relação à sensação de dor: pessoas que sentem menos um mesmo estímulo têm limiares mais altos. “A cócegas funciona segundo um mecanismo similar, mas relacionada ao estímulo da terminação tátil. Ele pode sofrer esse mesmo tipo de variação entre os indivíduos”, explica.