Não são só os daltônicos: nós não enxergamos as mesmas cores
Apesar de envolver um engenhoso processo biológico, a percepção das cores não é necessariamente igual entre todas as pessoas de visão normal. Essa percepção ocorre provocada por uma onda ou faixa de luz e envolve os sistemas ótico e cerebral.
No entanto, a percepção das cores pode variar conforme gênero, ambiente e cultura de cada um.
No processo de recepção, a luz atinge células especiais da retina e é transformada em informação nervosa, processo chamado de transdução, que então passa pelo nervo ótico, responsável por enviar o registro para o sistema nervoso.
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Toda essa engenharia também é influenciada por processos mais subjetivos. O fato de falar línguas diferentes é um deles. Se em algumas línguas, como em português ou em inglês, se usa ‘azul claro’ ou ‘vermelho escuro’, em outras línguas elas são definidas como um nome específico para elas e não apenas como diferenciação de tonalidades.
Costuma-se acreditar também que mulheres teriam mais sensibilidade para identificar uma variedade maior de cores que homens, mas a neurocientista Claudia Feirosa-Santana explica que esse senso comum é explicado mais pelo viés da linguagem que algo físico-biológico.
“Mulheres falam mais que os homens sobre cores e assim, conseguem especificar melhor”, explica Claudia, que é pós-doutora em Neurociência pela Universidade de Chicago e professora visitante da Universidade Federal do ABC e da Casa do Saber.
O ambiente e a cultura são outros fatores de influência. Indígenas que vivem florestas, não enxergam necessariamente mais tons de verdes como se costuma acreditar, porém possuem mais facilidade e rapidez em diferenciar esses tons.
O mesmo em relação aos povos inuítes, que vivem em meio à neve, e a percepção de diferentes tons de branco. Uma cor pode provocar sensações diferentes entre as culturas, o que significa que pintar as paredes do escritório de amarelo, por exemplo, pode ter efeitos diferentes entre japoneses e mexicanos.
Profissionais que estudam a psicologia das cores já estão se dedicando a pesquisar a influência de mais luz de verão ou de inverno nessas percepções.
E os daltônicos?
O que acontece no caso dos daltônicos é algum grau de deficiência nas células da retina de identificação da luz. E, apesar de geralmente os daltônicos serem identificados como pessoas que confundem as cores vermelha e verde, este seria apenas um dos tipos de daltonismo, e o mais forte deles.
“O que ocorre é que os daltônicos têm menor capacidade de discriminação das cores, por exemplo, dois tons de vermelho ou laranja muito próximos. O daltônico vai ter mais dificuldade de apontar essa diferença, pois o espaço de cores deles é menor, mas, como as cores têm brilho, eles podem diferenciar pelo brilho”, explica Claudia.
Nesses casos mais severos, a confusão entre verde e vermelho se dá porque essas são consideradas cores oponentes, assim como o azul e o amarelo. Para os daltônicos, a deficiência nas células que identificam essa oposição faz com que eles tenham menor capacidade de detectá-las.
“Os daltônicos podem dirigir normalmente, já que nos semáforos o verde e o vermelho estão em posições diferentes e com certa distância e ainda tem a diferença de brilho”, esclarece.
Em geral, não há prejuízos para a rotina dos daltônicos. “Nosso espectro de cores é um luxo. Nos primórdios da vida na Terra ele era necessário, até para diferenciar verde e maduro, fruta e verdura; mas hoje não precisamos disso para nossa sobrevivência”, afirma a neurocientista.
Logo, são raras as profissões que são proibitivas aos daltônicos. Entre elas estariam piloto de avião (militar ou civil) e astronauta, já que nessas atividades é preciso ter uma percepção de cores muito boas, com capacidade de perceber diferenças pequenas entre verdes e azuis. Ou ainda hematologista (que estuda o sangue) e dermatologista.
O daltonismo é raro em mulheres já que ele é recessivo e está presente no cromossomo X. Como as mulheres possuem dois cromossomos X, os dois teriam que carregar a deficiência para a manifestação dessa condição. Cerca de 10% dos homens teriam algum grau de defeito na pigmentação ocular que identifica a luz, mas, muitas vezes, essa deficiência é tão leve que nem é percebida.
Além do daltonismo, que é genético, a visão das cores pode ser afetada por outras causas externas, como um acidente ou tumor com lesão cerebral na área responsável pela visão, Parkinson, Alzheimer ou esclerose múltipla.
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