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Parentes do vírus zika também podem causar danos em fetos, aponta estudo

AP Photo/Felipe Dana
Imagem: AP Photo/Felipe Dana

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

31/01/2018 17h24

O zika não é o único vírus capaz de danificar o desenvolvimento de fetos, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (31) na revista científica "Science Translation Medicine". Em testes realizados com camundongos, pesquisadores norte-americanos conseguiram identificar em vírus emergentes um comportamento bastante similar ao do parente.

Embora o vírus zika tenha sido identificado pela primeira vez há mais de 70 anos, sua capacidade de causar danos na placenta, restrição de crescimento intra-uterino, microcefalia e morte fetal só se tornou evidente a partir da epidemia sulamericana de 2015. Só no Brasil, por exemplo, foram confirmados 3.037 casos de alterações no crescimento e no desenvolvimento de recém-nascidos em consequência da infecção pelo vírus, de 8 de novembro de 2015 a 2 de dezembro de 2017.

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"O vírus entra na corrente sanguínea da grávida, infecta a célula do sistema imunológico e acaba se infiltrando na placenta com um disfarce. Chamamos essa estratégia de cavalo de troia", explica Alysson R. Muotri,  biólogo molecular, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia e chefe científico da startup de biotecnologia TISMOO. "Com o desenvolvimento do organismo fetal, o vírus acaba ficando preso no cérebro e acessando as células neurais".

Especulando que outros vírus transmitidos por insetos pertencentes à família Flavivirus poderiam ter potencial para causar danos semelhantes ao do zika, os pesquisadores norte-americanos --coordenados por Derek Platt-- testaram a capacidade dos vírus nilo ocidental, powassan, chikungunya e mayaro para infectar a placenta e o feto em camundongos grávidas com sistemas imunes completamente intactos.

Comum no verão da América do Norte, o nilo ocidental pode ser transmitido por várias espécies de mosquitos e pode causar febre, dores de cabeça, fadiga, dores musculares, náuseas, perda de apetite e, em casos mais graves, afetar o sistema nervoso central. O powassan, por sua vez, é transmitido por carrapatos e mais comumente relatada na região dos Grandes Lagos.

Já o chikungunya, presente no Brasil desde 2010, é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, causando febre e dores no corpo concentradas principalmente nas articulações. O mayaro, identificado pela primeira vez em 1954, é comum em regiões de mata e é transmitido por mosquitos silvestres, mas também pelo Aedes aegypti. 

Os quatros vírus, segundo os pesquisadores, causaram infecção placentária, mas apenas a infecção com os flavivírus neurotrópicos --nilo e powassan-- causaram a morte dos fetos.

O nilo causou a morte de células progenitoras neurais no desenvolvimento de fetos, fenômeno não observado na infecção por chikungunya. Semelhante ao vírus zika, o nilo e powassan se replicaram em amostras de tecidos maternos e fetais de mulheres grávidas de seis meses e saudáveis.

A partir da descobertas, os autores especulam que as infecções por flavivírus podem causar complicações da gravidez com mais frequência do que atualmente apreciado.

"É um alerta importante", afirma Muotri, que acrescenta a necessidade de estudos complementares para que a hipótese levantada possa ser "100% confirmada". "Serve como uma nota de cautela, já que se sabe da capacidade desses outros vírus infectar as células da placenta. Ainda assim o estudo tem algumas limitações. Uma delas é o uso da placenta do camundongo, que é completamente diferente da placenta humana. E mais, os pesquisadores usaram o vírus protótipo, sem mutação extra. Já o vírus zika, que gerou as más-formações era mutante."